sexta-feira, 31 de agosto de 2018


VIAGEM AO MÉXICO


            Em agosto de 2018 passamos (Rosi, eu e nosso neto Alexandre Júnior) uma semana na Cidade do México.  Partimos de Curitiba no dia 13 num avião da Avianca até Guarulhos e depois voamos pela Copa Airlines, uma empresa panamenha, até o destino final, após uma escala na Cidade do Panamá. O tempo de viagem foi de aproximadamente 6 horas, entre S.Paulo e a Cidade do México, já descontada uma hora da escala no Panamá. Assim chegamos no México por volta das 6:30 da manhã, hora local, do dia 14, uma terça-feira. Como há uma diferença de fuso horário de duas horas para menos, essa hora corresponde no Brasil a 8:30.   

            Hospedamo-nos num pequeno hotel (Hotel del Principado) na rua Londres, 42, bem localizado, porque próximo das duas principais atrações turísticas da Cidade: o Centro Histórico e o Bosque de Chapultepec. Entre essas duas regiões há o Passeo de la Reforma, uma bela avenida, com diversos monumentos históricos, que leva diretamente ao Bosque mas não àquele Centro, pois antes de chegar a este, é necessário avançar pela  Alameda Central, passar pelo Palácio de Belas Artes e percorrer algumas quadras das ruas que vão dar no Zócalo, como é chamada a Plaza de la Constitución, coração do Centro Histórico. Aqui estão localizados a Catedral, o Palácio Nacional e outros edifícios públicos interessantes.



Em frente à Catedral- Cidade do México
   
          O nosso hotel fica a meio caminho desses locais. Por isso, logo no inicio de nossa estadia lá fomos a pé rumo ao Zócalo, caminhando pela avenida Insurgentes, até o Passeo de la Reforma. Nesta moderna avenida há vários monumentos, como dissemos. Dentre eles se destaca aquele que homenageia os homens que lutaram pela independência do país, no topo do qual há a estátua dourada do Anjo da Independência. Também deparamos com o monumento a Cuauhtémoc, o último chefe asteca, torturado e morto pelos espanhóis, que chegaram em 1519 liderados por Hernán Cortez e destruíram, em alguns anos a cidade asteca de Tenochtitlán, fundada em 1325, que deu origem à atual Cidade do México (uma bela demonstração do avanço civilizatório europeu!...). Ainda no Passeo, encontramos o monumento dedicado a Colombo. Tirei uma foto de Ale Jr ao lado dessas duas figuras históricas. Há ainda nas cercanias uma escultura apelidada El Caballito que, segundo consta, relincha,  quando o mexicano passa por ele após beber muita tequila... Depois, seguindo pela  avenida Juárez, chegamos até o prédio do Palácio de Belas Artes, considerado “o mais belo edifício do Centro Histórico”. Só o prédio já é motivo de contemplação, mas na realidade formos até lá para apreciar as obras de Siqueiros (“Nova Democracia”), Orozco (“Catarse”) e Rivera (“Homem, Senhor do Universo”, onde aparecem as imagens de Lenin e Trotsky. Rivera reproduziu ali o mural que concebera para o Rockfeller Center, em Nova York e que causara polêmica pela inserção nele da figura de Lenin, não prevista inicialmente. O pintor acabou sendo demitido pelo milionário cujo nome está associado àquele Centro e o mural, destruído. Há porém vários outros trabalhos de Rivera nos EUA (Detroit, San Francisco), onde ele morou e foi prestigiado.



"Nova democracia" de Siqueiros. Palácio de Belas Artes. Cidade do México. 

Nas proximidades, localizam-se duas outras atrações, que visitaríamos no último dia de nossa estadia: a Torre Latinoamericana, onde os interessados pagam para observar, do 42º andar, toda a cidade. Trata-se de um prédio moderno, que não foi afetado pelo grande terremoto de 1985. As fotos da exposição que ali se encontra mostram a torre ereta no meio de escombros.  Visitamos também a Casa de los Azulejos, um prédio muito antigo (é do século XVI) mas bem conservado, interessante não só pelo seu exterior, que é inteiramente revestido por azulejos azuis e brancos, mas também pela decoração interna. Dentro dele, há um restaurante e diversas lojas. Com alguma dificuldade, localizamos o mural de Orozco (“Onisciência”) em uma de suas paredes.   

             Umas sete quadras adiante do Palácio de Belas Artes fica o Zócalo. Essa grande praça estava tomada por inúmeras barracas onde se vendia de tudo, desde alimentos até produtos industrializados de consumo popular. A princípio estranhei que tal ocorresse, uma vez que estragava a estética daquele conjunto urbanístico, cartão postal da Cidade, que reunia a imensa fachada da Catedral Metropolitana, o Palácio Nacional de Governo e outros prédios. Mas logo pensei-- o que é  mais relevante socialmente, atender o interesse de uma grande massa de pequenos comerciantes participantes daquela feira (de caráter temporário) ou a sensibilidade estética de turistas egoístas?...

            Além da Catedral Metropolitana, visitamos o Palácio Nacional, não porque ainda abriga o gabinete do Presidente da República mas por um motivo muito mais importante. O Palácio contém, logo na entrada, um grande mural de Diego Rivera, concluído em 1935, relativo à história do México, abordando a época pré-hispânica, o período que vai da chegada dos espanhóis até 1930 e “O México, Hoje e Amanhã”, em que o comunista Rivera incluiu  imagens de Marx, e do livro “O Capital” nas mãos de um cidadão, além da esposa do pintor, Frida Kahlo, e da irmã dela. As imagens marxistas nas paredes do palácio do Presidente da República surpreendem o turista brasileiro, que durante a ditadura militar no Brasil tinha receio de pronunciar o nome de Marx ou de citar “O Capital”! Fiquei imaginando, num devaneio anacrônico, como as pessoas reagiriam a tais imagens nas paredes do Palácio do Planalto, em Brasília... No primeiro andar, há outros murais de Rivera, realizados posteriormente. Num deles, concluído em 1951, Hernán Cortez aparece comprando de um outro europeu uma mulher nativa (seria La Malinche, que foi sua amante e lhe serviu de intérprete?) e é representado com uma cor azulada, doentia (de sifilítico, segundo nosso guia). Um outro mural mostra ao fundo a cidade de Tenochtitlán....A  propósito, li em algum lugar que o Palácio Nacional foi construído no mesmo local onde antes havia o do imperador asteca Montezuma. E que as pedras dos templos destruídos de Tenochtitlán serviram para construir as igrejas da Cidade do México. 

Nesse mesmo Centro Histórico, ao lado do Zócalo, vimos também as ruínas do Templo Mayor asteca. Caminhamos por ali ao som dos realejos, pois sobrevivem nessa área tocadores deles, com sua farda bege característica, enquanto um auxiliar estende o quepe para pedir donativos aos transeuntes. Outra peculiaridade dessa extensa área do Centro Histórico são os “ciclotaxis”, pequenos veículos cobertos, com três rodas, movidos por um ciclista. Parece-se com um riquixá asiático. Um deles facilitou o nosso deslocamento nessa região. Cobrou 50 pesos mexicanos (o valor deste é aproximadamente um quarto do real brasileiro) para nos levar até a Secretaría de Educación Pública, pois queríamos apreciar os inúmeros murais de Rivera ali existentes.  Como se sabe, esses grandes pintores mexicanos, devido a razões ideológicas (eram de esquerda), preferiram os murais a pinturas de cavalete (embora também tivessem trabalhado nessa modalidade) visando facilitar o seu acesso à grande massa do povo . A vantagem disso é que podemos hoje apreciar suas obras simplesmente visitando os prédios onde funcionam órgãos do governo sem pagar por isso...  Dentre os muitos murais de Rivera que pudemos ver aí lembro daqueles que mostram trabalhadores na entrada de uma mina, ou produzindo açúcar e “O Arsenal”, em que Frida Kahlo aparece distribuindo armas para os correligionários.  

Ainda nessa região do Centro Histórico, vale mencionar a visita que fizemos ao prédio da Suprema Corte de Justiça. O dia não foi muito apropriado uma vez que havia uma manifestação na frente dele. Mas conseguimos entrar pela porta lateral  para ver os murais que abrigam, um dos quais é de Orozco.   



A Pedra do Sol asteca- Museu Nacional de Antropologia, Cidade do México

Como outras grandes cidades do mundo, a Cidade do México tem um grande parque dentro dos seus limites. É o Bosque de Chapultepec, que conhecemos inicialmente fazendo um giro por ele num trenzinho destinado aos visitantes. Estivemos depois no Museu Nacional de Antropologia aí situado, que possui um grande acervo de arte pré-colombiana, e tiramos foto ao lado da famosa Pedra do Sol. Segundo li sobre esta, seus “entalhes contam o início do mundo asteca e predizem seu fim”. No centro há a imagem do deus do sol. Em torno dele, há quatro pequenos quadrados que simbolizam os quatro sóis que já existiram. Os astecas achavam que viviam então durante a vigência do quinto sol... A propósito, vendo essas peças de arte pré-colombiana, muitas delas de cerâmica e de pequeno porte, lembrei meus tempos de estudante secundarista, quando frequentava a Escolinha de Arte do Colégio Estadual do Paraná e trabalhava com argila, fazendo pequenos trabalhos, que depois de passarem pelo forno, solidificados, levava para casa. Me deu vontade de voltar a trabalhar com argila...


Também visitamos nesse Bosque o Castillo de Chapultepec, onde residiu o infausto imperador Maximiliano, o arquiduque austríaco que os conservadores aliados dos franceses de Napoleão III colocaram no trono. Mas isso só por alguns anos, pois eles foram derrotados pelos liberais de Benito Juarez, que restauraram a república e executaram Maximiliano. Vários presidentes também aí residiram. Assim, num lado o Castelo mostra os aposentos e objetos pessoais de Maximiliano e esposa; em outro, sedia o interessante Museu Nacional de História, onde entramos no clima das diferentes épocas auxiliado pelas telas de pinturas ali expostas. O edifício também abriga murais. O mais notável é o visto logo na sua entrada, de autoria de Siqueiros. Intitula-se “Do Porfiriato à Revolução” e aborda, do modo expressionista característico do pintor, temas inspirados na história mexicana, da ditadura de Porfírio Diaz até o movimento revolucionário iniciado em 1910.




Bustos de Hernán Cortez e Cuauhtémoc . Museu Nacional de História. Cidade do México.
















Ainda no Bosque de Chapultepec está instalado o Museu de Arte Moderno, cujo acervo inclui o famoso quadro de Frida Kahlo—“As duas Fridas”, em que uma Frida europeia, frágil, alimenta com seu sangue a Frida nativa, mexicana, autoconfiante, e por isso mais forte. A diferenciação entre as duas se faz pela indumentária delas. Como se sabe, o pai de Frida era um fotógrafo alemão, um europeu, portanto, que casou com uma mexicana.

"As duas Fridas", por Frida Kahlo. Museo de Arte Moderno. Cidade do México.
Reservamos três dias para passeios contratados. O primeiro, logo no início de nossa estadia na Cidade do México, abrangeu uma visita guiada a vários locais interessantes, já referidos acima, além de um outro, ainda não mencionado-- o da Basílica de N. Sra. de Guadalupe, padroeira do México. Compramos ali souvenires para nossos parentes e amigos católicos.

O segundo passeio contratado foi a Teotihuacán, situada a 49 km da Cidade do México, um local em que permaneceram certos vestígios de sua antiga civilização, bem anterior à dos astecas (iniciou antes de Cristo e perdurou até o ano 650 de nossa era). Eles consideravam sagrada essa cidade de Teotihuacán. Dentre os vestígios, podem ser citadas as pirâmides do Sol e da Lua, a Avenida dos Mortos etc.  Nesse local encontram-se muitos vendedores ambulantes que oferecem, de modo insistente, aos turistas seus  produtos de artesanato. São realmente belos produtos, que usam os abundantes recursos minerais do México. Os preços reduzem-se bastante no processo de barganha. Compramos deles uma imagem do deus sol em obsidiana e uma máscara asteca de miquelita. No almoço, um conjunto mariachi cantou para nós músicas regionais, e o casal colombiano que estava conosco cantou junto, demonstrando saber a letra da canção. Aliás, foi com esse casal que Ale Jr subiu todos os degraus da Pirâmide do Sol, indo até o seu topo, uma vez que os avós não se sentiram em condições físicas de acompanhá-lo na proeza... Se o povo dali tinha o mesmo costume de seus pósteros astecas, nesse topo, ou altar, muitas vidas devem ter sido sacrificadas aos deuses sedentos de sangue humano, a quem era oferecido o coração das vítimas, arrancado do peito na cerimônia religiosa... 


A Pirâmide do Sol, em Teotihuacán. 

      O terceiro passeio consistiu numa ida até Coyoacán, nos arredores da Cidade do México, a fim de conhecer o bairro em que nasceu, viveu parte de sua vida e morreu Frida Kahlo. Estivemos em sua casa, a Casa Azul, hoje um movimentado ponto de atração turística, com gente de todas as partes do mundo (felizmente, pela idade, tivemos atendimento preferencial; caso contrário, teríamos que enfrentar uma fila quilométrica para entrar). O sujeito fica quase constrangido de penetrar no interior dessa casa e privar, por alguns momentos, da intimidade da vida da artista, vendo seus objetos de uso pessoal, sua cadeira de rodas, seus livros nas estantes (um deles, aliás, era sobre o brasileiro Portinari), sua copa/ cozinha pintadas de amarelo vivo (chão, móveis etc), que contrasta violentamente com o azulão das paredes exteriores da casa... No amplo quintal, há uma lápide alta onde está escrito o nome de Trotsky e sua esposa. Ali foram depositadas as cinzas do casal, que esteve hospedado naquela casa, juntamente com o casal Rivera-Frida. Como se sabe, Rivera pediu ao presidente Lázaro Cárdenas que o México concedesse asilo político para Trotsky, o que foi obtido.


Na Casa Azul de Frida Kahlo. Coyocán. Cidade do México. 


Dali seguimos para a Casa Museu Leon Trotsky, não muito distante da primeira, para onde Trotsky se mudou, depois de deixar a Casa Azul. Também aí são mantidos os aposentos (quartos, escritório, banheiro, etc) do jeito como eram quando o líder da Revolução Russa os ocupou. Foi nessa casa que ele foi assassinado em 1940 por um estalinista sectário...  



Na Casa-Museu León Trotsky

          No trajeto de ida a esses locais, ou na volta, para aproveitar a proximidade, paramos em três ocasiões: 1) para ver o Estádio Azteca, de futebol, onde o Brasil sagrou-se campeão mundial em 1970; 2) no Museo del Anahuacalli, criado pelo casal Rivera-Frida, que reúne sua coleção de peças de arte pré-colombiana e 3) no Museo Dolores Olmedo Patiño, que abriga uma bela coleção de telas de Rivera, e outros artistas, além de peças de arte asteca, maia etc. É uma antiga mansão de amplos jardins, onde vivem pavões e outras aves, além de, numa área cercada, cães xoloitzcuintle, uma raça de cães sem pelos, em extinção, que segundo a mitologia local era o cão dos infernos.

         Uma palavra final sobre o povo mexicano, tão marcantemente indígena na aparência. Tivemos a melhor impressão dele. Todas as pessoas com quem falamos, pedindo informação ou por qualquer outro motivo, foram muito amáveis, contentes de nos serem úteis.  Lembraram-nos o povo brasileiro...                                                                                                                        



Nos jardins do Castillo de Chapultepec