VIAGEM AO
MÉXICO
Em agosto de 2018 passamos (Rosi, eu
e nosso neto Alexandre Júnior) uma semana na Cidade do México. Partimos de Curitiba no dia 13 num avião da
Avianca até Guarulhos e depois voamos pela Copa Airlines, uma empresa
panamenha, até o destino final, após uma escala na Cidade do Panamá. O tempo de
viagem foi de aproximadamente 6 horas, entre S.Paulo e a Cidade do México, já
descontada uma hora da escala no Panamá. Assim chegamos no México por volta das
6:30 da manhã, hora local, do dia 14, uma terça-feira. Como há uma diferença de
fuso horário de duas horas para menos, essa hora corresponde no Brasil a 8:30.
Hospedamo-nos num pequeno hotel
(Hotel del Principado) na rua Londres, 42, bem localizado, porque próximo das
duas principais atrações turísticas da Cidade: o Centro Histórico e o Bosque
de Chapultepec. Entre essas duas regiões há o Passeo de la Reforma, uma bela avenida, com diversos monumentos
históricos, que leva diretamente ao Bosque mas não àquele Centro, pois antes de
chegar a este, é necessário avançar pela
Alameda Central, passar pelo Palácio de Belas Artes e percorrer algumas
quadras das ruas que vão dar no Zócalo, como é chamada a Plaza de la Constitución,
coração do Centro Histórico. Aqui estão localizados a Catedral, o Palácio
Nacional e outros edifícios públicos interessantes.
Em frente à Catedral- Cidade do México |
O nosso hotel fica a meio caminho desses locais.
Por isso, logo no inicio de nossa estadia lá fomos a pé rumo ao Zócalo,
caminhando pela avenida Insurgentes, até o Passeo de la Reforma. Nesta moderna
avenida há vários monumentos, como dissemos. Dentre eles se destaca aquele que
homenageia os homens que lutaram pela independência do país, no topo do qual há
a estátua dourada do Anjo da
Independência. Também deparamos com o monumento
a Cuauhtémoc, o último chefe asteca, torturado e morto pelos espanhóis, que
chegaram em 1519 liderados por Hernán Cortez e destruíram, em alguns anos a
cidade asteca de Tenochtitlán, fundada em 1325, que deu origem à atual Cidade
do México (uma bela demonstração do avanço civilizatório europeu!...). Ainda no
Passeo, encontramos o monumento dedicado a
Colombo. Tirei uma foto de Ale Jr ao lado dessas duas figuras históricas. Há
ainda nas cercanias uma escultura apelidada El
Caballito que, segundo consta, relincha, quando o mexicano passa por ele após beber muita
tequila... Depois, seguindo pela avenida
Juárez, chegamos até o prédio do Palácio
de Belas Artes, considerado “o mais
belo edifício do Centro Histórico”. Só o prédio já é motivo de
contemplação, mas na realidade formos até lá para apreciar as obras de
Siqueiros (“Nova Democracia”), Orozco
(“Catarse”) e Rivera (“Homem, Senhor do Universo”, onde
aparecem as imagens de Lenin e Trotsky. Rivera reproduziu ali o mural que concebera
para o Rockfeller Center, em Nova York e que causara polêmica pela inserção nele
da figura de Lenin, não prevista inicialmente. O pintor acabou sendo demitido
pelo milionário cujo nome está associado àquele Centro e o mural, destruído. Há
porém vários outros trabalhos de Rivera nos EUA (Detroit, San Francisco), onde
ele morou e foi prestigiado.
"Nova democracia" de Siqueiros. Palácio de Belas Artes. Cidade do México. |
Nas proximidades, localizam-se duas outras
atrações, que visitaríamos no último dia de nossa estadia: a Torre Latinoamericana, onde os interessados
pagam para observar, do 42º andar, toda a cidade. Trata-se de um prédio
moderno, que não foi afetado pelo grande terremoto de 1985. As fotos da
exposição que ali se encontra mostram a torre ereta no meio de escombros. Visitamos também a Casa de los Azulejos, um prédio muito antigo (é do século XVI) mas
bem conservado, interessante não só pelo seu exterior, que é inteiramente
revestido por azulejos azuis e brancos, mas também pela decoração interna. Dentro
dele, há um restaurante e diversas lojas. Com alguma dificuldade, localizamos o
mural de Orozco (“Onisciência”) em
uma de suas paredes.
Umas sete quadras adiante do Palácio de Belas
Artes fica o Zócalo. Essa grande praça estava tomada por inúmeras barracas onde
se vendia de tudo, desde alimentos até produtos industrializados de consumo
popular. A princípio estranhei que tal ocorresse, uma vez que estragava a estética
daquele conjunto urbanístico, cartão postal da Cidade, que reunia a imensa fachada
da Catedral Metropolitana, o Palácio Nacional de Governo e outros prédios. Mas
logo pensei-- o que é mais relevante
socialmente, atender o interesse de uma grande massa de pequenos comerciantes participantes
daquela feira (de caráter temporário) ou a sensibilidade estética de turistas
egoístas?...
Além da Catedral Metropolitana, visitamos o Palácio Nacional, não porque ainda abriga o gabinete do
Presidente da República mas por um motivo muito mais importante. O Palácio contém,
logo na entrada, um grande mural de Diego Rivera, concluído em 1935, relativo à
história do México, abordando a época pré-hispânica, o período que vai da
chegada dos espanhóis até 1930 e “O México, Hoje e Amanhã”, em que o comunista
Rivera incluiu imagens de Marx, e do
livro “O Capital” nas mãos de um cidadão, além da esposa do pintor, Frida Kahlo,
e da irmã dela. As imagens marxistas nas paredes do palácio do Presidente da
República surpreendem o turista brasileiro, que durante a ditadura militar no
Brasil tinha receio de pronunciar o nome de Marx ou de citar “O Capital”! Fiquei
imaginando, num devaneio anacrônico, como as pessoas reagiriam a tais imagens
nas paredes do Palácio do Planalto, em Brasília... No primeiro andar, há outros
murais de Rivera, realizados posteriormente. Num deles, concluído em 1951, Hernán
Cortez aparece comprando de um outro europeu uma mulher nativa (seria La
Malinche, que foi sua amante e lhe serviu de intérprete?) e é representado com
uma cor azulada, doentia (de sifilítico, segundo nosso guia). Um outro mural mostra
ao fundo a cidade de Tenochtitlán....A propósito, li em algum lugar que o Palácio
Nacional foi construído no mesmo local onde antes havia o do imperador asteca
Montezuma. E que as pedras dos templos destruídos de Tenochtitlán serviram para
construir as igrejas da Cidade do México.
Nesse mesmo Centro Histórico, ao lado
do Zócalo, vimos também as ruínas do Templo
Mayor asteca. Caminhamos por ali ao som dos realejos, pois sobrevivem nessa área tocadores deles, com sua farda
bege característica, enquanto um auxiliar estende o quepe para pedir
donativos aos transeuntes. Outra peculiaridade dessa extensa área do Centro
Histórico são os “ciclotaxis”, pequenos
veículos cobertos, com três rodas, movidos por um ciclista. Parece-se com um
riquixá asiático. Um deles facilitou o nosso deslocamento nessa região. Cobrou 50
pesos mexicanos (o valor deste é aproximadamente um quarto do real brasileiro)
para nos levar até a Secretaría de
Educación Pública, pois queríamos apreciar os inúmeros murais de Rivera ali
existentes. Como se sabe, esses grandes
pintores mexicanos, devido a razões ideológicas (eram de esquerda), preferiram
os murais a pinturas de cavalete (embora também tivessem trabalhado nessa modalidade)
visando facilitar o seu acesso à grande massa do povo . A vantagem disso
é que podemos hoje apreciar suas obras simplesmente visitando os prédios onde
funcionam órgãos do governo sem pagar por isso... Dentre os muitos murais de Rivera que pudemos
ver aí lembro daqueles que mostram trabalhadores na entrada de uma mina, ou
produzindo açúcar e “O Arsenal”, em
que Frida Kahlo aparece distribuindo armas para os correligionários.
Ainda nessa região do Centro
Histórico, vale mencionar a visita que fizemos ao prédio da Suprema Corte de Justiça. O dia não foi
muito apropriado uma vez que havia uma manifestação na frente dele. Mas
conseguimos entrar pela porta lateral
para ver os murais que abrigam, um dos quais é de Orozco.
A Pedra do Sol asteca- Museu Nacional de Antropologia, Cidade do México |
Como outras grandes cidades do mundo,
a Cidade do México tem um grande parque dentro dos seus limites. É o Bosque de Chapultepec, que conhecemos
inicialmente fazendo um giro por ele num trenzinho destinado aos visitantes.
Estivemos depois no Museu Nacional de
Antropologia aí situado, que possui um grande acervo de arte
pré-colombiana, e tiramos foto ao lado da famosa Pedra do Sol. Segundo li sobre
esta, seus “entalhes contam o início do
mundo asteca e predizem seu fim”. No centro há a imagem do deus do sol. Em
torno dele, há quatro pequenos quadrados que simbolizam os quatro sóis que já
existiram. Os astecas achavam que viviam então durante a vigência do quinto
sol... A propósito, vendo essas peças de arte pré-colombiana, muitas delas de
cerâmica e de pequeno porte, lembrei meus tempos de estudante secundarista,
quando frequentava a Escolinha de Arte do Colégio Estadual do Paraná e trabalhava
com argila, fazendo pequenos trabalhos, que depois de passarem pelo forno,
solidificados, levava para casa. Me deu vontade de voltar a trabalhar com argila...
Também visitamos nesse Bosque o Castillo de Chapultepec, onde residiu o infausto
imperador Maximiliano, o arquiduque austríaco que os conservadores aliados dos
franceses de Napoleão III colocaram no trono. Mas isso só por alguns anos, pois
eles foram derrotados pelos liberais de Benito Juarez, que restauraram a
república e executaram Maximiliano. Vários presidentes também aí residiram.
Assim, num lado o Castelo mostra os aposentos e objetos pessoais de Maximiliano
e esposa; em outro, sedia o interessante Museu
Nacional de História, onde entramos no clima das diferentes épocas
auxiliado pelas telas de pinturas ali expostas. O edifício também abriga murais.
O mais notável é o visto logo na sua entrada, de autoria de Siqueiros.
Intitula-se “Do Porfiriato à Revolução”
e aborda, do modo expressionista característico do pintor, temas inspirados na
história mexicana, da ditadura de Porfírio Diaz até o movimento revolucionário
iniciado em 1910.
Ainda no Bosque de Chapultepec está
instalado o Museu de Arte Moderno,
cujo acervo inclui o famoso quadro de Frida Kahlo—“As duas Fridas”, em que uma Frida europeia, frágil, alimenta com
seu sangue a Frida nativa, mexicana, autoconfiante, e por isso mais forte. A
diferenciação entre as duas se faz pela indumentária delas. Como se sabe, o pai
de Frida era um fotógrafo alemão, um europeu, portanto, que casou com uma
mexicana.
"As duas Fridas", por Frida Kahlo. Museo de Arte Moderno. Cidade do México. |
O segundo passeio contratado foi a Teotihuacán, situada a 49 km da Cidade do México, um
local em que permaneceram certos vestígios de sua antiga civilização, bem
anterior à dos astecas (iniciou antes de Cristo e perdurou até o ano 650 de
nossa era). Eles consideravam sagrada essa cidade de Teotihuacán. Dentre os
vestígios, podem ser citadas as pirâmides do Sol e da Lua, a Avenida dos Mortos
etc. Nesse local encontram-se muitos
vendedores ambulantes que oferecem, de modo insistente, aos turistas seus produtos de artesanato. São realmente belos
produtos, que usam os abundantes recursos minerais do México. Os preços reduzem-se
bastante no processo de barganha. Compramos deles uma imagem do deus sol em
obsidiana e uma máscara asteca de miquelita. No almoço, um conjunto mariachi cantou para nós músicas
regionais, e o casal colombiano que estava conosco cantou junto, demonstrando
saber a letra da canção. Aliás, foi com esse casal que Ale Jr subiu todos os
degraus da Pirâmide do Sol, indo até o seu topo, uma vez que os avós não se
sentiram em condições físicas de acompanhá-lo na proeza... Se o povo dali tinha
o mesmo costume de seus pósteros astecas, nesse topo, ou altar, muitas vidas devem
ter sido sacrificadas aos deuses sedentos de sangue humano, a quem era
oferecido o coração das vítimas, arrancado do peito na cerimônia religiosa...
A Pirâmide do Sol, em Teotihuacán. |
O terceiro passeio consistiu numa ida até Coyoacán, nos arredores da Cidade do México, a fim de conhecer o bairro em que nasceu, viveu parte de sua vida e morreu Frida Kahlo. Estivemos em sua casa, a Casa Azul, hoje um movimentado ponto de atração turística, com gente de todas as partes do mundo (felizmente, pela idade, tivemos atendimento preferencial; caso contrário, teríamos que enfrentar uma fila quilométrica para entrar). O sujeito fica quase constrangido de penetrar no interior dessa casa e privar, por alguns momentos, da intimidade da vida da artista, vendo seus objetos de uso pessoal, sua cadeira de rodas, seus livros nas estantes (um deles, aliás, era sobre o brasileiro Portinari), sua copa/ cozinha pintadas de amarelo vivo (chão, móveis etc), que contrasta violentamente com o azulão das paredes exteriores da casa... No amplo quintal, há uma lápide alta onde está escrito o nome de Trotsky e sua esposa. Ali foram depositadas as cinzas do casal, que esteve hospedado naquela casa, juntamente com o casal Rivera-Frida. Como se sabe, Rivera pediu ao presidente Lázaro Cárdenas que o México concedesse asilo político para Trotsky, o que foi obtido.
Dali seguimos para a Casa Museu Leon Trotsky, não muito
distante da primeira, para onde Trotsky se mudou, depois de deixar a Casa Azul.
Também aí são mantidos os aposentos (quartos, escritório, banheiro, etc) do
jeito como eram quando o líder da Revolução Russa os ocupou. Foi nessa casa que
ele foi assassinado em 1940 por um estalinista sectário...
Na Casa-Museu León Trotsky |
No trajeto de ida a esses locais, ou na volta, para aproveitar a proximidade, paramos em três ocasiões: 1) para ver o Estádio Azteca, de futebol, onde o Brasil sagrou-se campeão mundial em 1970; 2) no Museo del Anahuacalli, criado pelo casal Rivera-Frida, que reúne sua coleção de peças de arte pré-colombiana e 3) no Museo Dolores Olmedo Patiño, que abriga uma bela coleção de telas de Rivera, e outros artistas, além de peças de arte asteca, maia etc. É uma antiga mansão de amplos jardins, onde vivem pavões e outras aves, além de, numa área cercada, cães xoloitzcuintle, uma raça de cães sem pelos, em extinção, que segundo a mitologia local era o cão dos infernos.
Uma palavra final sobre o povo
mexicano, tão marcantemente indígena na aparência. Tivemos a melhor impressão
dele. Todas as pessoas com quem falamos, pedindo informação ou por qualquer
outro motivo, foram muito amáveis, contentes de nos serem úteis. Lembraram-nos o povo brasileiro...
Nos jardins do Castillo de Chapultepec |
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