A catedral de Milão |
De
20 a 28 de maio, neste ano da graça de 2013, participamos, eu e minha consorte
(com sorte!), de uma excursão turística pela terra dos grandes artistas e
mafiosos.
A
primeira urbe visitada foi Milão,
capital da Lombardia, com cerca de 1,3 milhão de almas, na região setentrional
do país (é assim menor que Curitiba, com 1,8 milhão. Mas não devemos
menosprezar as cidades menores...). Como se sabe, trata-se de um centro
industrial importante que se destaca também pelo design e pela moda (pensei que só ia encontrar gente elegante ali,
mas não foi o que aconteceu). Em termos turísticos, sua atração principal é a
imponente e belíssima Catedral gótica,
com uma infinidade de pequenas torres, esculturas e detalhes. Se não fôssemos
uns turistas apressados e utilitaristas, ficaríamos horas observando tudo o que
ela mostra externamente. Aliás, é muito mais bonita por fora do que por dentro.
Ao seu lado, está a Galeria Vittorio
Emanuelle II, um prédio do século XIX, que abriga diversas lojas de griffe (Prada, Louis Vuitton etc),
restaurantes e livraria (todas as vitrines dela mostravam então o último livro do
autor de “O Código Da Vinci”, Dan Brown, intitulado “Inferno”, que ainda não
tinha sido lançado aqui. Uma dica: quem quiser entender melhor o contexto desse
livro, que será seguramente mais um “best seller”, deve ler antes o meu
trabalho “Sobre a Divina Comédia-Inferno”, que pode ser encomendado no site http://www.agbook.com.br/authors/67231
Gostaram da estratégia mercadológica?). No
mosaico do piso da Galeria, deparei de repente com a imagem de Rômulo e Remo --
os fundadores míticos de Roma -- mamando nas tetas da loba (no Brasil, são os
empresários que mamam nas tetas do governo). Alguns passos dali notei outra
imagem, a de um touro, à qual está associado um costume curioso: para atrair a boa
sorte, as pessoas apoiam o salto do sapato nos testículos do animal e dão um
giro de 360º em cima deles. Por causa do desgaste natural dessa parte do corpo,
o coitado do touro já se apresenta meio castrado...
Dentro
os pontos turísticos obrigatórios da cidade, incluem-se ainda o famosíssimo Teatro Scala, o castelo Sforzesco e a “Última
Ceia” de Leonardo da Vinci.
Era
no Scala de Milão que Verdi apresentava as suas óperas e foi ali que o nosso
Carlos Gomes estreou “O Guarani”, que
todo o mundo só conhece pelo prefixo da “Voz do Brasil”, o que é uma injustiça
para com o maestro brasileiro. Mas o prédio do Scala não faz justiça ao seu
renome...
Quanto
ao castelo, era o palácio da família Sforza, que detinha o poder político da
cidade. Leonardo da Vinci, protegido da família, aí morou por 17 anos. Aliás, Milão
homenageou o grande gênio homossexual (orgulho justificado do movimento gay) com
um belo monumento, uma estátua dele de corpo inteiro, rodeado pelos discípulos,
mais abaixo. Dentro do castelo, estivemos no Museu de Arte Antiga, que em seu acervo possui uma outra “Pietà” de
Michelangelo, a Rondanini, diferente daquela, mais conhecida, que está no
Vaticano. Havia tantas obras antigas ali, num ambiente amplo e meio escuro, que
quando senti uma coceira na perna disse a minha mulher que eu devia ter sido
picado por um pernilongo ...do século III !
Infelizmente
não pudemos ver a “Última Ceia” de Leonardo,
no refeitório do convento de Santa Maria delle Grazie. Era preciso ter feito a
reserva com muita antecedência... Mas quem queria ver aquele afresco velho e
desbotado?... Também os italianos não deram muita importância a ele no passado, senão
não teriam aberto uma porta embaixo do referido...
Vale
a pena registrar ainda, o que é de interesse para nós, brasílicos, que numa praça central de Milão há uma placa sobre a
relva em homenagem a Chico Mendes, com uns dizeres elogiosos a ele, pela sua
defesa dos povos da floresta amazônica.
De
Milão seguimos de ônibus para a região do Vêneto, fazendo uma parada em Verona, a cidade onde se passa a
tragédia “Romeu e Julieta” de Shakespeare. O bardo aliás não conheceu a cidade.
Baseou sua peça em outros autores, que por sua vez se basearam em cronistas do
século XIV. Eles se referiram à rivalidade entre duas famílias da região. Romeu
pertencia a uma das famílias e Julieta, à outra (essa luta entre famílias devia
ser uma coisa comum na época, também em outras cidades, como se infere pelas
notas explicativas à “Divina Comédia”, que foi escrita no começo dos 1300). Em
Verona há uma “casa de Julieta”
visitada pelos turistas (a casa é antiga mas o balcão, onde a moça recebia as
declarações do jovem enamorado, e de onde jogava as suas tranças, é de 1930,
quer dizer, foi feita mais recentemente para corresponder ao mito literário). Do lado de fora, há uma estátua de Julieta, de
bronze, cujos seios já estão desgastados (dourados, na realidade), de tanto os
turistas passarem a mão neles, ao posarem para fotografias (turista é chegado
em passar a mão em certos monumentos. Em Florença, vimos algo semelhante com
relação a um javali de bronze cuja ponta do focinho também já estava meio
dourada de tanto os visitantes passarem a mão ali...).
Caminhando
por Verona (uma cidade de 265 mil hab), notamos um pedaço da muralha que a
protegia (o que era comum nas cidades medievais), hoje dentro da malha urbana,
e também um Coliseu, menor que o de Roma mas construído na mesma época (séc.
I), que hoje sedia temporadas líricas.
Instalamo-nos
num hotel na região do Vêneto (em Preganziol).
No dia seguinte, logo de manhã, todos nós, da excursão, embarcamos numa lancha turística
(em dois níveis). Após mais ou menos uma hora de passeio, avistando as diversas
ilhas próximas (uma delas é Murano, dos famosos cristais), desembarcamos em
Veneza, a chamada “pérola do Adriático”, depois de ver a cúpula de Santa Maria
della Salute e o Palácio Ducale (dos Doges, antigos governantes da cidade).
Veneza |
Conhecemos a praça São Marcos e seus
monumentos, além da Basílica (que no cartão postal está mais bonita, sem uns andaimes
laterais que então havia). Os pombos que povoam a praça não se assustam mais
com os turistas (Rosi estendeu para eles o final de seu sorvete e eles, em vez
de fugirem, aproximaram-se para bicar a casquinha na mão dela).
Visitamos muitas lojas, inclusive uma só de
cristais de Murano (numa oficina anexa, houve uma demonstração de sua
fabricação artesanal. Senti-me então na Idade Média, vendo o “mestre” de ofício
soprando o vidro...). No comércio vendem-se também muitas máscaras de seu
famoso Carnaval. Percorremos os arredores da praça, e caminhamos pelas suas
ruelas até a ponte Rialto, que durante muito tempo foi a única ponte a transpor
o Grande Canal.
Veneza é uma cidade muito
peculiar, com seus canais e suas ruelas. A existência dessas ruas é algo que
não esperava, ao contrário dos canais. Formam um verdadeiro labirinto. São ruas
muito estreitas, medievais, cheias de lojas e restaurantes para
turistas. Facilmente a gente se perde ali, mas logo se reencontra,
tomando como referência básica a praça São Marcos.
Notei que os garçons, as camareiras
dos hotéis em que nos hospedamos, os comerciantes ambulantes etc são
geralmente de Bangladesh, conforme me informei (têm a pele escura como os
indus). Isso se repetiria em outras cidades, inclusive (ou principalmente) em
Roma, destino final de nosso passeio rodoviário. Quando eu disse para um desses
vendedores que era do Brasil, ele logo me falou em futebol... Também há muitos senegaleses
no comércio ambulante, de rua.
Na praça São Marcos existe, desde
1720, o Café Florian, que fiz questão
de ver porque, segundo meu guia de
viagem, era frequentado por Lord Byron, Goethe e Madame de Staël (e também por
Casanova, segundo a lenda). Também vi, um pouco mais distante da praça, o Harry’s Bar, frequentado por Hemingway. Só
entrei e saí, não permaneci nesses estabelecimentos, porque sentar-se ali e
pedir alguma coisa é, com certeza, pagar um ágio altíssimo por toda essa sua tradição
(e localização) ...
A propósito, em Veneza (assim como
em outras cidades) paga-se para usar o WC público. Na cidade dos doges, é mais
caro: para tirar água do joelho paga-se 1,50 euro!
Nosso próximo destino era Florença,
com paradas em Pádua e Pisa.
Em Pádua (ou Padova, em italiano),
há a Basílica de Santo Antônio,
que guarda o túmulo do santo, falecido em 1231, local de peregrinação dos
católicos de todo o mundo (assim como a Basílica de São Francisco, que
visitaríamos dois dias mais tarde, em Assis). Santo Antônio, na realidade, não
é de Pádua, mas de Lisboa, onde nasceu e recebeu o nome de Fernando. Além do túmulo, o turista vê na igreja certas
relíquias macabras dele como a sua arcada dentária, língua e cordas vocais,
preservadas porque ele era um bom orador...
Em Pisa, ajudamos a endireitar a Torre,
conforme todos os turistas fazem, ao tirar fotos. Visitamos também
a Catedral e o Batistério, onde a taxa paga dá direito a uma demonstração de
sua excelente acústica.
Florença |
Junto á bela
catedral de Santa Maria del Fiore está
o Batistério. Sua porta lateral é tão
bonita – com vários painéis dourados, em alto-relevo, representando cenas
bíblicas -- que Michelangelo a chamou de "Porta do Paraíso"...
No alto do
Duomo vimos alguns turistas. Todavia, para se chegar até lá é preciso subir 464
degraus a pé, pois não tem elevador... Só cumprindo promessa!.
A "Porta do Paraíso" |
Em Florença,
também conhecemos a Piazza della Signoria,
onde o monge Savonarola, que tentou botar ordem no pedaço, acabou queimado vivo. A praça é um verdadeiro museu a
céu aberto; do lado direito, além de uma obra de Donatello há uma série de estátuas
gregas originais e outras, envolvendo figuras mitológicas, como a
que mostra Hércules lutando com um centauro. Todavia, o Davi que a
gente vê ali é uma réplica. A estátua original, esculpida por Michelangelo,
está hoje na Galeria dell'Academia. Visitamos esse pequeno museu que possui vários trabalhos dele,
inclusive uma “Pietà” e “Os quatro prisioneiros”. Estes aparecem
como que saindo de seus blocos de mármore, em correspondência com a visão do
artista, que dizia antever na pedra as figuras que iria representar... Quanto ao Davi, é uma estátua enorme, que
até 1873 estava na Piazza della Signoria.
Representa o jovem judeu que matou o gigante Golias com sua funda, conforme a
Bíblia. Mas se era judeu, como notou nossa guia, porque não está circuncidado?
Outra observação interessante a respeito da estátua, é a desproporção dos
braços, ou das mãos, em relação ao resto do corpo... Mas tudo isso tem a sua justificativa
estética...(assim como a excessiva juventude de Maria, a da “Pietà” do Vaticano,
com o Cristo morto no colo, de 33 anos).
Florença- "Piazza della Signoria" |
Ainda em
Florença, visitamos a "Casa di Dante", um imóvel construído em 1911 no local onde o poeta nasceu para ser um museu a ele dedicado.
No dia 25 de
maio partimos para Roma, com parada em Assis,
na Úmbria, para a visita à Basílica de
São Francisco. Dentro da basílica inferior, está o túmulo do santo que para
mim é o que melhor representa a visão cristã do mundo. Os frades, o tempo todo,
pediam silêncio aos turistas visitantes, que não cessavam seu borburinho
desrespeitoso. Isso se repetiria várias vezes nas igrejas que visitamos. Essa
basílica inferior, que contém afrescos de Cimabue, foi construída em 1228, apenas dois anos após
a morte de S. Francisco. Na basílica
superior há afrescos de Giotto.
Afresco de Giotto em Assis |
Enfim, chegamos
a Roma, na região do Lácio, a capital da Itália, com uma
população de 2,7 milhões de pessoas (o país todo tem pouco mais de 60 milhões). Ao chegar, o ônibus nos levou para uma visita
panorâmica pela cidade, especialmente pela sua área histórica, a dos fóruns
imperiais, Coliseu (esse “estádio sem condição de jogo”, segundo Mané Garrincha...),
Arco de Constantino etc
No dia
seguinte, fizemos um passeio por nossa conta pelos pontos turísticos
obrigatórios da cidade: a bela Fontana di
Trevi (onde Fellini filmou uma cena memorável de “La Dolce Vita”), o Panteão,
Campo de' Fiori, Piazza Navona, igrejas de Santo Agostinho, de S. Luís dos
Franceses, dentre outras.
Roma- "Fontana di Trevi" |
Reverenciei
Júpiter no Panteão, esse antigo
templo pagão que virou igreja católica depois. Ali está o túmulo de Rafael,
sobre o qual depositei uma coroa de flores imaginária (porque gosto muito de
umas “Madonas” dele e da “Escola de Atenas”). Outro túmulo que também está ali
é o do rei Victorio Emanuelle II, o rei da unificação italiana, presente na
forma de monumentos, nomes de logradouros públicos etc em toda parte na Itália.
Nunca entrei
tanto em igrejas como desta vez. As igrejas são boas não só para admirar as
obras de arte mas também para descansar um pouco...Aquelas duas citadas
acima, por exemplo, têm obras de Caravaggio, que a gente pode
admirar sem pagar por isso. É o caso também das belas fontes
existentes na praça Navona, duas de
Bernini, a de Netuno e a Fontana dei Quattro Fiumi (os quatro
rios, um para cada continente, são o Danúbio, o Nilo, o Ganges e o da Prata). É
nessa praça que se situa a embaixada do
Brasil, num palácio adquirido no tempo de JK (consta que houve gente que se beneficiou
indevidamente na compra desse imóvel...).
No Campo dei Fiori, onde almoçamos, há uma
feira, onde se vende de tudo. Compramos ali alguns souvenires. Nessa praça, há
um monumento em homenagem ao filósofo Giordano Bruno, que aí foi queimado na fogueira
em 1600. Nas proximidades, fica o palácio
Farnese, sede da embaixada da França, onde pedi informações para o
porteiro, que descobri ser português...
A manhã de
27 de junho, último dia nosso reservado aos passeios, foi dedicada a conhecer o
Vaticano, o menor estado do mundo.
É, na realidade, um bairro de Roma. Visitamos a Basílica de S.Pedro (que
dentre outras preciosidades abriga a “Pietà” de Michelangelo), e os Museus do Vaticano, onde se destaca a bela
Capela Sistina, local em que os
cardeais de todo o mundo se reúnem
quando devem escolher um novo papa. Ali, no meio da massa de turistas,
arriscamos ficar com torcicolo admirando as pinturas de Michelangelo-- o “Juízo Final” e o teto da capela. Antes, tivemos
uma aula muito informativa de História da Arte dada pela nossa guia romana,
muito simpática, que se entusiasmava com o que dizia e gesticulava o tempo todo,
não fosse ela italiana....
Vaticano- Basílica de S.Pedro |
Viramo-nos
bem no metrô (em “la métro” ou em “la metropolitana”), após sairmos do Vaticano. À tarde, antes de nos encontrarmos com
o resto do pessoal para apanharmos o ônibus que nos levaria de volta ao
hotel, fizemos compras e visitamos ainda
as igrejas de San Giovanni in Laterano e a de Santa
Maria Maggiori. A primeira é a catedral de Roma. Curti bastante ali as
estátuas dos doze apóstolos, seis de
cada lado da nave central. Não sei quem é o seu autor, com a exceção de duas (S.Tomé e S.Bartolomeu, que são de Pierre Le Gros o Jovem (1666-1719), como informa o meu irmão Roberto).
"Pietà" de Michelangelo |
"S.Tomé" de Pierre Le Gros |
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