10 SONETOS DE SHAKESPEARE
(tradução e comentários de Domingos van Erven)
Reuniram-se aqui os
mais famosos (e amados) sonetos de William Shakespeare (1564-1616), aqueles que
mais frequentemente aparecem nas antologias da poesia de língua inglesa.
Representam uma amostra significativa dos “Sonetos” do grande bardo, e
consistem nos que tocaram mais de perto a sensibilidade das diversas gerações
que se sucederam desde 1609, quando foram impressos pela primeira vez.
A tradução procurou ser a mais fiel
possível, apoiando-se em interpretações de autoridades shakespeareanas
reconhecidas (ver “Fontes consultadas”). Não
adotou metro nem rima, que muitas vezes distorcem o original, pois os
versos têm que se encaixar em um padrão pré-estabelecido, sem levar em conta as
diferenças entre os dois idiomas, além de evocarem sugestões outras – por
imposição da rima, especialmente --, que
lhes são estranhas.
Minha preocupação básica foi tentar
passar para o português o que Shakespeare realmente disse nos versos, a fim de
permitir que o leitor brasileiro conheça o seu conteúdo de modo preciso. Por
outro lado, ele é alertado, nos “comentários”, para as características formais
desses versos, intraduzíveis, podendo assim melhor desfrutar da poesia do
original.
Domingos van Erven
Sonnet
XII
When
I do count the clock that tells the time,
1
And
see the brave day sunk in hideous night;
When
I behold the violet past prime,
And
sable curls, all silver’d o’er with white;
When
lofty trees I see barren of leaves,
5
Which
erst from heat did canopy the herd,
And
summer’s green all girded up in sheaves,
Borne
on the bier with white and bristly beard;
Then
of thy beauty do I question make,
That
thou among the wastes of time must go,
10
Since
sweets and beauties do themselves for forsake,
And
die as fast as they see others grow;
And
nothing ‘gainst Time’s scythe can make defence
Save
breed, to brave him when he takes thee hence.
Soneto XII
Quando
as horas que soam do relógio eu conto, 1
E
vejo o lindo dia afundar na noite hedionda;
Quando
contemplo, já sem viço, a violeta,
E
vejo pratear negros cachos de cabelos;
Quando
árvores altivas vejo desfolhadas,
5
Que
antes, no calor, ao rebanho davam sombra,
E
os cereais do verão, em feixes amarrados,
Com
suas brancas barbas hirsutas, levados no caixão;
Então
ponho em questão a beleza que possuis,
Pois
deverás passar pelas ruínas do tempo,
10
Uma
vez que coisas belas e gentis de si mesmas se despedem,
E
morrem, quando veem outras aparecerem;
E
nada, contra a foice do Tempo, é defesa
Salvo
a prole, que o desafia, quando ele daqui te leva.
Comentários ao soneto XII
1.Sinopse
Quando o poeta verifica as horas, e vê o dia findar, quando vê a flor
(violeta) começar a murchar, depois de atingir o seu auge (“prime”), e os
cabelos, antes negros, embranquecerem (“silver’d o’er with white”) (quarteto
1), quando vê as árvores perderem as folhas, que no verão davam sombra ao
rebanho, e vê a safra dessa estação sendo levada embora (quarteto 2),
então coloca em questão a beleza do ser amado, que deverá sofrer também os
efeitos da passagem do tempo (quarteto 3). Nada escapa à sua ação -- à
‘’foice do Tempo” --, salvo a nossa descendência, que o desafia, após morrermos
(dístico).
2.Tema e intenções
O tema do soneto é a passagem do tempo, que afeta tudo o que existe no
mundo.
No dístico, Shakespeare trata o
tempo de forma personalizada, como um ceifeiro, associando-o à figura
tradicional da Morte, que tudo alcança com a sua foice, inclusive o ser amado.
Mas se este tiver descendentes, isso será uma defesa “contra a foice do Tempo”.
De certa forma, ele o vencerá, pois continuará existindo por meio de sua prole.
3.Observações
particulares
-v.1: atentar para as
características fonéticas desse verso, no original, em que predominam os sons
de t (ou d) e k , lembrando o tic-tac do relógio
-v.1, 3 e 5: anáfora;
a repetição de “When...”, que é uma referência temporal, adequada ao tema do
soneto, estrutura os dois primeiros quartetos
-v.2: “brave”=
esplêndido, magnífico
-v.3: “sable”= negro
(em heráldica); presença de cores nos versos 3 e 4: “violet”, “sable” e “white”
-v.6: “erst”=
“formerly” (anteriormente), segundo “Cliffs Notes on...”, p.24 ; “canopy”= cobrir com dossel
-v. 8: “bier”:
segundo o web site citado acima, no tempo de Shakespeare, a palavra tinha dois
sentidos, o de “carroça”, “carreta” e o de “esquife”, permitindo então o duplo
sentido que o verso original contém. Atualmente, “bier”= esquife. Por outro
lado, “beard” também tem um duplo sentido, pois inclui, além do significado de
“barba”, o de “barba de espiga (de
cereais)” Temos assim, nos versos 7-8, uma imagem curiosa: a safra do verão
(“summer’s green”), carregada, em feixes, na carreta, lembra, no original,
velhos mortos no caixão, devido à referência a “bier”, e à menção a barbas,
brancas e hirsutas (“white and bristly beard”). O poeta joga com as conotações
de “bier” e de “beard” para fazer a associação funérea com o verão que acabou
(=morreu)
-v.8: para a tradução
do verso, adotou-se a solução feliz de Oscar Mendes (op. cit., p. 820), uma vez
que a palavra “caixão” inclui também o sentido funéreo, além do significado de
“caixa grande”
-notar a presença de
personificação nos versos 11-12,: neles, “coisas belas e gentis” (“sweets and
beauties”), que sugerem flores morrendo e nascendo na natureza, são dotadas de
sentimentos humanos, pois as mais velhas altivamente saem de cena quando vêem
as novas aparecerem
Sonnet XVII
Who
will believe my verse in time to come, 1
If
it were fill’d with your most high deserts?
Though
yet, Heaven knows, it is but as a tomb
Which
hides your life, and shows not half your parts.
If
I could write the beauty of your eyes, 5
And
in fresh numbers number all your graces,
The
age to come would say, this poet lies,
Such
heavenly touches ne’er touch’d earthly faces.
So
should my papers, yellow’d with their age,
Be
scorn’d, like old men of less truth than tongue; 10
And
your true rights be term’d a poet’s rage,
And
stretched metre of an antique song:
But
were some child of yours alive that time,
You
should live twice; -- in it, and in my rhyme.
Soneto XVII
Quem acreditará em meus versos no futuro, 1
Se eles forem compostos com os teus mais altos atributos?
Embora, como sabem os céus, sejam apenas uma tumba
Que esconde a tua vida,e pouco mostrem das tuas qualidades.
Se descrever pudesse a beleza dos teus olhos, 5
E, em versos novos, enumerar todos os teus encantos
O tempo vindouro diria, “Este poeta mente,
Tais traços celestes nunca pertenceram a faces terrenas”.
Assim, meus papéis, amarelados com a idade,
Seriam desprezados, como velhos tagarelas; 10
E o que te cabe por direito chamariam de entusiasmo de
poeta,
E de metro exagerado de um poema antigo:
Mas se algum filho teu viver nesse tempo por vir,
Viverás duas vezes – nele, e em minhas rimas.
Comentários ao soneto XVII
1.Sinopse
O poeta inicia afirmando que a
posteridade não acreditará nele, se os seus versos referirem-se aos altos atributos
do ser amado. Mas esses versos, como uma tumba, escondem a sua vida, e não
revelam nem a metade das suas qualidades (“and shows not half your parts”) (quarteto
1). Se ele pudesse descrever a beleza daquela pessoa, e enumerar todos os
seus atrativos, achariam, no futuro, que ele mente, pois tais características
são celestiais, e não da Terra (quarteto 2). Assim, seus papéis (onde
estão escritos, supõe-se, estes versos) seriam desprezados, e os elogios
considerados como fruto do entusiasmo, ou arrebatamento, típico dos poetas (quarteto
3). Mas se viver, no futuro, um filho daquela pessoa, esta viverá nele
também, e não só em suas rimas (dístico).
2.Tema e intenções
A
idéia central do soneto é a da descrença da posteridade no que os versos do
poeta afirmam sobre a beleza do ser amado. Mas a existência de um filho, nos
tempos vindouros, confirmaria a verdade do que ele diz (cf. “Cliffs Notes on…”,
p. 27).
Shakespeare
adota o ponto-de-vista de uma pessoa no futuro. Seus versos despertariam a
descrença desse leitor (v.1), para quem o poeta seria considerado mentiroso
(v.7), e seus papéis seriam desprezados como “velhos tagarelas” (v.10) – um
símile --, pois falam demais, sem compromisso com a verdade. No v.3, já
introduzira um outro símile: o de seus versos comparados a uma tumba (v.3).
Essa imagem se justifica pela idéia da passagem do tempo -- um tema recorrente
--, que no limite significa morte. Assim, no futuro,
esses versos,
escritos em “papéis, amarelados com a idade” (v.9) (notar a expressão concreta
daquele tema), serão vistos como exageros de um poema antigo. No dístico,
Shakespeare, ao mencionar a possibilidade do ser amado continuar vivendo num
filho, além de nos versos, convoca a Vida para corroborar a Arte.
3.Observações
particulares
-nos versos 2, 4 e 6,
ocorrem palavras que se referem aos motivos do louvor ao ser amado: “deserts”
(= méritos; excelências); “parts” (= qualidades, talentos, características, na
interpretação do site http://www.shakespeares-sonnets.com/) e
“graces” (= graças; encantos; virtudes, méritos; atrativos )
-v. 6: “numbers”=
versos (cf. site citado antes)
-versos 7-8: consta
aqui uma fala que lembra o Shakespeare dramaturgo (assim como o símile do v.
10, evocando “old men of less truth than tongue”, também tem o sabor de seu
estilo pessoal)
-v.9: ver referência
às “yellow leaves” do soneto LXXIII
Sonnet XVIII
Shall I compare thee to a summer´s day?
1
Thou art more lovely and more
temperate:
Rough winds do shake the darling buds
of May,
And summer´s lease hath all too short a
date:
Sometime too hot the eye of heaven
shines, 5
And often is his gold complexion
dimm´d;
And every fair from fair sometime
declines,
By chance, or nature´s changing course,
untrimm´d;
But thy eternal summer shall not fade,
Nor lose possession of that fair thou
owest; 10
Nor shall Death brag thou wander´st in
his shade,
When in eternal lines to time thou growest;
So long as men can breathe, or eyes can
see,
So long lives this, and this gives life
to thee.
Soneto XVIII
Devo
comparar-te a um dia de verão?
1
Mais
adorável és, e mais suave:
Ventos
rudes sacodem os botões do começo da estação,
E
o contrato do verão tem vigência muito curta:
O
olho celeste, às vezes, brilha quente em demasia, 5
E,
com frequência, a sua tez de ouro é encoberta,
E
tudo o que é belo declina da beleza um dia,
Dela
despojado pelo acaso, ou pelo curso incerto da natureza;
Mas
teu verão eterno não declinará,
Nem
perderá a posse dessa beleza que possuis; 10
Nem
a Morte se gabará de que vagueias em sua sombra,
Quando
em versos eternos te aderires ao tempo;
Enquanto
os homens puderem respirar, ou os olhos ver,
Este
soneto há de viver, e ele vida há de te dar.
Comentários ao soneto XVIII
1.Sinopse
O poeta afirma que, se fosse comparar a pessoa a quem se dirige a um
(belo) dia de verão, ela sairia ganhando, pois é “mais adorável e mais suave”.
O dia de verão pode ser rude com os botões das flores do começo da estação
(“buds of May”, v. comentário abaixo). Além disso, o verão é efêmero (quarteto
1). No verão, o sol, chamado de
“olho celeste”, pode ser muito quente, ou a sua “tez de ouro” toldar-se. E a beleza
das coisas vai declinar, como é usual, quer pelo acaso ( um acidente), quer
pelo curso próprio da natureza (quarteto 2). Mas, ao contrário do belo dia de verão, que
pode ser rude, efêmero, ter um sol quente demais ou encoberto, o “verão” da
pessoa amada será sem fim (não haverá morte para ela) e sua beleza permanente,
uma vez que estará eternizada pelos versos do poeta (quarteto 3).
Enquanto a humanidade existir, o soneto lhe dará vida (dístico).
2.Tema
e intenções
O tema do soneto consiste em um
elogio à beleza do ser amado.
A intenção de Shakespeare foi
explorar literariamente a comparação entre essa pessoa e o belo dia de verão,
como numa disputa, em que a primeira sai vencedora. No v. 2, ela é considerada
mais “adorável” (“lovely”) e mais “suave”, amena (“temperate”), sem os excessos
de temperatura do dia de verão (v.5), que sugere excessos de paixão, ou sem a
sua instabilidade, pois o sol pode ficar encoberto (v.6). A pessoa amada não é
sujeita a tais excessos, ou instabilidade, possui um temperamento sereno,
manso, equilibrado. No v.
3.Observações particulares
v.1,2,9, 10, 11,12, 14: notar o tratamento elevado
à pessoa a quem se dirige o soneto: “thou art”= tu és; “thee”=te, ti; “thy”=teu
(também ocorre nos sonetos XII, XXIX, XXX, LX e LXXIII)
-v.2: convém buscar-se um adjetivo neutro quanto
ao gênero para a tradução de “temperate” nesse verso, pois se for usado, por
exemplo, o adjetivo “ameno” (que se aplica tanto a pessoas quanto ao clima )
perde-se a ambiguidade de gênero do verso original, no tocante à pessoa a quem
se dirige o poema (tanto pode ser o jovem senhor, que inspirou boa parte dos
sonetos, como alguém do sexo feminino)
-v.3: “botões do começo da estação”- preferiu-se
usar essa expressão em vez de “botões de maio” porque, segundo o web site http://www.shakespeares-sonnets.com/
, no calendário defasado da época de Shakespeare, maio correspondia ao começo
do verão, e não pertencia à primavera, como no calendário atual ( no Hemisfério
Norte ); ainda no v.3: “do”- para dar ênfase e por exigência rítmica
-v.4: o site já citado alerta para a linguagem
burocrática desse verso (“lease”= contrato; arrendamento; prazo); ainda no
v.4, “hath”=has (grafia arcaica);
-v.5: notar a personificação: o sol é considerado
como “the eye of heaven”
-v.6: his=its (na época de Shakespeare, não se
adotava ainda a diferenciação do caso neutro, cf. site): “his” refere-se aqui
naturalmente ao sol. Ainda no v. 6, ver personificação: “gold complexion”= tez de ouro ( do sol )
-v.7: “fair” abrange os significados de “belo” e
“beleza”. Esse termo tanto pode ser aplicado ao tempo (“fair weather”= tempo
lindo) como a pessoas (“fair lady”= bela dama, “fair person”= pessoa justa,
imparcial; cf. dicionário Houaiss, op.cit.). É importante levar em conta essas
conotações, que se perdem na tradução para o português, quando se trata da
pessoa a quem o soneto é dedicado. Ainda
quanto ao v.7, repetição de “sometime”, que já apareceu no v.5
-v.9: metáfora: o “verão” da pessoa a quem o
soneto é dedicado
-v.10: “fair” é repetido (já apareceu no v.7);
“owest”= “ownest” (cf. site)
-no v.11, a morte é personificada (v. letra
maiúscula em “Death”); trata-se de personagem masculino (v.
“his” shade)
-v.12: repetição de
“eternal” que já apareceu no v.9; para justificar a nossa tradução do v.12, ver
nota in Péricles E.S.Ramos -op.cit., p. 50
-v.14: ‘This”=este. Subentende-se “este soneto”, “este
poema”, estes “eternal lines” (v.12)
Sonnet XXIX
When in disgrace with fortune and men´s
eyes, 1
I all alone beweep my outcast state,
And trouble deaf Heaven with my
bootless cries,
And look upon myself, and curse my
fate,
Wishing me like to one more rich in
hope, 5
Featur´d like him, like him with
friends possess´d,
Desiring this man´s art, and that man´s
scope,
With what I most enjoy contented least;
Yet in these thoughts myself almost
despising,
Haply I think on thee, -- and then my
state 10
(Like to the lark at break of day
arising
From sullen earth) sings hymns at
heaven´s gate
For thy sweet love remember´d such
wealth brings,
That then I scorn to change my state
with kings´.
Soneto XXIX
Quando, em desgraça ante a fortuna e os olhos
humanos, 1
Eu, tão só, deploro o meu
estado de proscrito,
E perturbo o surdo céu com vãos clamores,
E penso em mim mesmo, e maldigo o meu destino,
Querendo ser como alguém mais rico de esperança, 5
Os traços dele ter, e ser também cheio de amigos,
Desejando a arte deste homem, e daquele as oportunidades,
Do que mais gosto, obtendo menos satisfação;
Ainda nesses pensamentos, quase me desprezando,
Eis que penso em ti, -- e então meu estado 10
(Como a cotovia, ao romper do dia que nasce
Da terra tristonha) canta hinos à porta do paraíso;
Pois teu amor lembrado tal riqueza traz
Que desdenho trocar, com os reis, o meu estado.
Comentários ao soneto XXIX
1.Sinopse
O poeta, considerando-se desvalido da fortuna e rejeitado socialmente,
deplora a sua sorte, e a maldiz (quarteto 1). Gostaria de ser como outra
pessoa, com mais esperança e amigos, mais arte e oportunidades, além de poder
contar com melhor aparência (quarteto 2). Mas nesse estado de quase
autodesprezo, vem-lhe à mente a pessoa a quem se dirige o soneto, e então a sua
disposição de espírito muda. Seu estado é agora de contentamento, pois passa a
cantar hinos à porta do céu (quarteto 3). Após lembrar o amor da pessoa
amada, já não importam mais os seus dissabores, e sente-se muito feliz, uma vez
que já não troca o seu estado nem com o dos reis (dístico).
2.Tema e intenções
O soneto consiste em um elogio ao
amor. Saber que alguém nos ama proporciona autoestima e contentamento,
permitindo-nos enfrentar melhor as dificuldades da vida.
3.Observações
particulares
-v.3:“bootless”=inútil; notar a personificação de ”heaven” que é
“surdo”; ver mais adiante (v. 12) nova menção ao céu, em “heaven’s gate”;
-v.4: “to look upon”=
considerar
-v.6: “Featur´d like
him, like him…”= segundo o web site http://www.shakespeares-sonnets.com,
o sentido desse verso é: “ter os traços
desta pessoa, e como essa outra ser cheio de amigos”
-v.7: “scope”=
oportunidades, série de oportunidades; cf. autores citados in Péricles E.S.
Ramos, op.cit., p. 64
-v.10: “haply”=
(arc.) por acaso; adotada aqui a solução feliz de Oswaldino Marques, op. cit.,
p. 27 (“eis que”)
-nos versos 11-12, há
um símile: o estado do poeta, que agora canta à porta do céu, é comparado ao da
cotovia cantando no alvorecer. Assim como o dia, o poeta também se renova, com
a lembrança do amor de alguém, e encontra-se no limiar de um novo estado, de
contentamento e autoestima (o “céu”), pois a beleza ( o canto,
a cotovia ) aponta para a
alegria. Antes, quando o poeta estava deprimido, ele não cantava. Mas lançava
gritos (“cries”) para o céu (v.3)
-notar o contraste,
no v.12, entre terra (“sullen earth”) e céu (“heaven’s gate”)
Sonnet XXX
When to the sessions of sweet silent thought, 1
I
summon up remembrance of things past,
I
sigh the lack of many a thing I sought,
And
with old woes new wail my dear time´s waste:
Then
can I drown an eye, unus´d to flow, 5
For
precious friends hid in death´s dateless night,
And
weep afresh love´s long-since cancell´d woe,
And
moan the expense of many a vanish´d sight.
Then
can I grieve at grievances foregone,
And
heavily from woe to woe tell o’er 10
The
sad account of fore-bemoaned moan,
Which
I new pay as if not paid before.
But
if the while I think on thee, dear friend,
All
losses are restor’d, and sorrows end.
Soneto XXX
Quando, às sessões de doce e silente pensamento,
1
Convoco a lembrança de fatos passados,
Sinto não ter alcançado muita coisa que buscava,
E lamento de novo,
com velhas mágoas, a destruição
pelo tempo do que me era valioso:
Então os olhos se enchem d’ água, a isso desabituados, 5
Por amigos preciosos que a noite infindável da morte escondeu,
E novamente choro pelas mágoas de amor há muito canceladas,
E pela onerosa visão de muita coisa desaparecida:
Então sofro com os agravos do passado,
E, desgosto a desgosto, penosamente totalizo 10
A triste conta dos lamentos antes expressos,
Que pago de novo, como se não o tivesse feito
anteriormente.
Mas se penso em ti, nesse ínterim,
Todas as perdas são reparadas, e as tristezas acabam.
Comentários ao soneto XXX
1.Sinopse
Quando o poeta se entrega à recordação do seu passado,
sente não ter alcançado muita coisa que almejava, e lamenta a destruição, pelo
tempo, do que lhe era valioso (quarteto 1). Então chora pelos amigos que
morreram, pelas mágoas de amor do passado e pela visão de coisas desaparecidas
ao longo do tempo (quarteto 2). Afirma também que sofre com os
agravos antigos e que soma toda a conta dos desgostos, a qual é paga novamente
(quarteto 3). Mas se nesse ínterim pensa numa pessoa amiga, suas perdas
são reparadas e cessam as tristezas (dístico).
2.Tema e intenções
O soneto consiste num elogio da amizade, ou do amor, que
tem o dom de nos confortar e afastar a
melancolia de certas lembranças.
Nos três quartetos (v.1-12), o poeta busca
caracterizar as suas “perdas” (“losses”) e “tristezas” (“sorrows”) mencionadas
no último verso do soneto. Numa linguagem burocrática, própria dos tribunais da
época (v. comentário abaixo), o poeta inclui nas “perdas” as coisas que
buscou (em vão) (v.3) ou que o tempo destruiu (v.4). As “tristezas”, que o
levam a chorar (v.5), relacionam-se explicitamente aos amigos mortos (v.6), às
mágoas de amor (v.7) e às coisas que ele nunca mais verá (v.8), cuja lembrança,
nessas “sessões de doce e silente pensamento” (v.1), renova agora o sofrimento
que já lhe ocorrera no passado (v.9 e v.12). No dístico (v.13-14), o poeta quer
estabelecer um contraste com os versos precedentes, caracterizados pela
inquietude emocional. Serenamente, afirma que a mera lembrança da existência de alguém,
de uma pessoa amiga, tem o dom de reparar as perdas e acabar com suas tristezas
(v.12).
3.Observações
particulares
-Shakespeare usa neste
soneto uma linguagem peculiar, burocrática, aquela apropriada a um suposto
tribunal investigando contas, conforme assinala o web site http://www.shakespeares-sonnets.com/
Por isso, a ocorrência dos seguintes termos: “sessions” (v.1), “summon up”
(v.2), “waste” (v.4), “cancell´d” (v.7), “expense” (v.8), “grievance” (v.9),
“tell o’er” (v.10), “account” (v.10), “pay” (v.12), “losses”...restor’d” (v.14)
-v.1-2:
notar a metáfora: o poeta trata a sua disposição de espírito voltada para o
passado como “sessões” (v.1) (de um tribunal) de pensamento, ao qual “convoca”
(v.2) certas lembranças. Notar também a aliteração em s no v.1: “When to
the sessions of sweet silent thought”
-v.4:
notar a aliteração em w: “And with old woes new wail
my dear time’s waste:” Na tradução desse verso seguiu-se a interpretação
adotada por Péricles E.S. Ramos, op.cit, p.66 (v. também aí citação dos autores
em que se fundamenta)
-notar como o soneto está
estruturado: “I summon up”...(v.2)/ “Then can I”...(v.5)/ “Then can I”…(v.9)
-no
v.6, o poeta afirma que chora pelos amigos que se foram; no v.13, o simples
fato do “dear friend” estar vivo, e o poeta poder contar com sua amizade/amor,
repara todas as perdas que sofreu pela ação implacável do tempo, e isso lhe é
motivo de alegria, mudando seu estado de ânimo (v. semelhança de idéias com o
soneto XXIX)
-v.9:
“grievances”= agravos ( danos, prejuízos); motivos de queixa. Por outro lado,
“to grieve” (= sofrer; afligir-se) é mais um daqueles verbos, citados em versos
anteriores, que expressam a disposição de espírito do poeta: “to sigh”
(=suspirar; lamentar), no v.3; “wail” (=lamentar, gemer), no v.4; “weep”
(=chorar), no v.7 e “moan” (= gemer, lamentar), no v. 8
-v.10:
“tell o’er”= segundo o site acima, trata-se de uma expressão contábil, que se
refere à soma de listas de cifras
-v.11:
notar metáfora ( “conta dos lamentos” )
-v.13:
preferiu-se não traduzir “dear friend” para manter, no verso, a ambiguidade de gênero do original
Sonnet LV
Not marble, nor the gilded monuments 1
Of princes, shall outlive this powerful
rhyme;
But you shall shine more bright in
these contents
Than unswept stone, besmear´d with
sluttish time.
When wasteful war shall statues
overturn, 5
And broils root out the work of
masonry,
Nor Mars his sword nor war´s quick fire
shall burn
The living record of your memory.
‘Gainst death and all-oblivious enmity
Shall you pace forth; your praise shall
still find room, 10
Even in the eyes of all posterity
That wear this world out to the ending
doom.
So, till the judgment that yourself
arise,
You live in this, and dwell in lovers´
eyes.
Soneto LV
Nem o mármore, nem os monumentos ornados de ouro 1
Dos príncipes, sobreviverão a estes versos poderosos;
Mas tu brilharás mais no conteúdo deles
Do que na pedra suja do tempo desleixado.
Quando a guerra devastadora puser abaixo as estátuas, 5
E desenraizar as obras de alvenaria,
Nem a espada de Marte nem o incêndio veloz da guerra queimarão
O registro vivo da tua lembrança.
Contra a morte e o inimigo que tudo lança no olvido
Avançarás, compassadamente; teu louvor sempre
encontrará lugar, 10
Mesmo aos olhos das gerações futuras
Que desgastarão este mundo pelo uso, até o Juízo
Final.
Assim, até esse dia, quando ressurgirás,
Viverás neste poema, e nos olhos dos que amam.
Comentários ao soneto LV
1.Sinopse
O poeta afirma
que seus versos durarão mais do que o mármore e os monumentos em honra dos
príncipes. Mas que o “príncipe” (o jovem senhor da dedicatória dos “Sonetos”) a
quem se dirige brilhará mais nesses “versos poderosos” do que nos monumentos de
pedra, abandonados dos adros das igrejas (v. comentário abaixo) (quarteto 1).
Mesmo a guerra, que derruba estátuas e obras de alvenaria, não eliminará o
“registro vivo” da sua lembrança, i.e. o poema, escrito no papel ou presente na
memória das pessoas que amam (v.14) (quarteto 2). O jovem senhor, pelo seu
comportamento, avançando, solene, em tempo de guerra ou de paz, será sempre
louvado, por meio desses versos, inclusive pelas gerações futuras, até o dia do
Juízo Final (quarteto 3). Até essa data, quando ressurgirá, ele viverá
no soneto, e nos olhos dos que amam (dístico).
2.Tema e intenções
O
tema do soneto é o da imortalidade da (grande) poesia, de sua capacidade de
resistir à passagem devastadora do tempo.
A intenção de Shakespeare foi
estabelecer uma comparação, quanto à permanência temporal, entre o poema e os
monumentos de pedra erigidos em homenagem a determinadas pessoas, afirmando,
logo de início, que o poema é mais durável. Nesse confronto, o poema é o
vencedor (v. semelhança estrutural com o soneto XVIII). Os monumentos podem
ficar abandonados ( “unswept stone” ),
sem manutenção, nos terrenos em volta das igrejas (v.4);
nas guerras, as estátuas, ou os monumentos, são derrubados. Mas seu fogo não o
“queimará”, não queimará o papel onde consta o “The living record of your
memory”. No terceiro quarteto, Shakespeare deixa de explorar a comparação, e se
concentra no destinatário do poema, idealizando-o, pois o vê avançando
“compassadamente”, como à frente de seus exércitos, numa guerra, ou liderando
seus homens na vida quotidiana, numa conduta digna de louvor, objeto do soneto.
Até o fim dos tempos, expresso pela imagem do dia do Juízo Final, ele viverá,
por meio do poema imortal em si, ou da lembrança de seus versos, e portanto
daquela pessoa, na memória dos indivíduos sensíveis, i.e., daqueles que amam (
“lover´s eyes”, v.14).
3.Observações particulares
-v.1: ocorrência de
metonímia: “marble” (= mármore) substitui “estátua ou monumento de mármore”
-v.3-4: notar a
aliteração em s: “But you shall shine more bright in these
contents/ Than unswept stone, besmear’d with sluttish
time.”
-v.4: ocorrência de
metonímia: “stone” (= pedra) é usado em vez de “monumento de pedra”, que,
segundo os comentaristas, corresponde àqueles que haviam na época de
Shakespeare nos adros das igrejas, e cuja limpeza, ou manutenção, era
negligenciada por parte dos encarregados disso, ao contrário dos “gilded
monuments” (v.1) (monumentos decorados com ouro em folha) dentro das igrejas;
notar, ainda no v.4,
a personificação do tempo, considerado como um zelador desleixado (“sluttish”)
-v.6: “broil”= luta,
briga; “to root out”= arrancar pela raiz
-v.7: “Mars”= Marte,
deus romano da guerra. “Mars his sword”= forma antiga de “Mars´
sword”;
notar também a
alternância de r e s neste verso: “Nor Mars his
sword nor war’s quick fire shall
burn”
-v.9: “all-oblivious
enmity”: adotou-se, na tradução, a
interpretação de que o inimigo é o tempo, conforme o web site http//www.shakespeares-sonnets.com/
Todavia, segundo ainda esta fonte, Stephen Booth arrolou sete diferentes
interpretações possíveis para essa expressão. Ver também Péricles E.S.Ramos,
op.cit. p.74
-v.10: “still”=
(ant.) sempre, constantemente
-v.12: “to wear out”=
usar, gastar (até que se estrague); desgastar (cf. dicionário Houaiss, op.
cit.). O verbo enfatiza a passagem do tempo. O v.12 trata o mundo,
metaforicamente, como se fosse um objeto qualquer, que se desgasta com o uso
prolongado
-“doom”= (ant.)
julgamento, condenação; Juízo Final (segundo a doutrina cristã, o dia, no final
dos tempos, em que todos os seres humanos serão julgados definitivamente, indo
uns para o Céu, e outros para o Inferno. Todos os mortos, para tanto,
ressuscitarão nesse dia).
Sonnet LX
Like
as the waves make towards the pebbled shore, 1
So
do our minutes hasten to their end;
Each
changing place with that which goes before.
In
sequent toil all forwards do contend.
Nativity,
once in the main of light, 5
Crawls
to maturity, wherewith being crown’d,
Crooked
eclipses ‘gainst his glory fight,
And
Time, that gave, doth now his gift confound.
Time
doth transfix the flourish set on youth,
And
delves the parallels in beauty’s brow; 10
Feeds
on the rarities of nature’s truth,
And
nothing stands but for his scythe to mow.
And
yet, to times in hope, my verse shall stand,
Praising
thy worth, despite his cruel hand.
Soneto LX
Assim como as ondas, na praia pedregosa, 1
Também nossos minutos correm para o seu fim;
Cada um ocupando o lugar que era do outro.
Na lida sucessiva, todos movem-se para a frente.
A natividade, uma vez no fulgor da luz, 5
Caminha para a maturidade, com a qual é coroada.
Maléficos eclipses lutam contra a sua glória,
E o Tempo, que doou, agora aniquila a sua dádiva.
O Tempo trespassa o floreio que adorna a juventude,
E escava paralelas na testa da beleza; 10
Alimenta-se das excelências da natureza em expansão,
E nada fica de pé senão para a sua foice ceifar.
E no entanto meus versos a ele hão de resistir,
Louvando o teu valor, apesar da sua cruel mão.
Comentários ao soneto LX
1.Sinopse
O poeta inicia comparando os minutos que se sucedem (o tempo que passa)
com as ondas que, repetidamente, morrem na praia, umas substituindo as outras (quarteto
1). Tudo o que nasce, desenvolve-se, e é “coroado” quando amadurece. Mas a
sua glória (=a glória da juventude) é ameaçada por eclipses maléficos, de má
influência, e o Tempo acaba por destruir aquilo que doou, i.e., a vida (quarteto
2). O Tempo fere mortalmente a juventude e a beleza, tudo alcançando com a
sua temível foice (quarteto 3). Mas o poeta está convicto de que seus
versos, nos quais o valor do ser amado é louvado, resistirão ao Tempo (dístico).
2.Tema e intenções
O soneto trata da passagem do tempo,
da sua ação implacável sobre os seres humanos, afetando a juventude e a beleza
destes. Tudo sucumbe a essa ação, exceto a Poesia.
Shakespeare
desenvolve um símile nos versos do quarteto 1: os minutos que passam,
ininterruptamente, são comparados às ondas do mar, que vêm se desfazer na
praia, substituindo-se umas às outras, e procurando sempre mover-se para a
frente. No quarteto seguinte, a imagem é outra. Ele refere-se à “natividade”,
i.e., ao nascimento de uma criança, que caminha ( literalmente, “anda de
gatinhas”- “crawls”) para o seu futuro. E afirma que a maturidade é o
coroamento dessa vida humana. Após tal afirmação, menciona os astros, ou mais
precisamente os “maléficos eclipses”, maléficos por causa da influência
negativa que supostamente exercem sobre as pessoas, sobre a sua “glória”, ou
fase gloriosa da vida (a juventude). Shakespeare utiliza essa imagem porque tradicionalmente
sempre se acreditou ( e ainda há quem acredite) que os astros estão
relacionados ao destino das pessoas. No último verso desse quarteto, introduz a
figura do Tempo personificado (v. letra maiúscula), como um personagem maléfico
que se arrepende do presente que deu, sendo o presente (“gift”) uma metáfora
para a vida saudável e bela. No terceiro
quarteto, Shakespeare concentra-se no vilão Tempo, como alguém que ataca
(“trespassa”) a juventude -- “trespassa” sugerindo a utilização de uma espada
--, e também escavando sulcos “na testa da beleza”, uma manifestação do
envelhecimento. Depois, ao deixar implícita a sugestão de um monstro que devora
as “excelências” da natureza (cf. site citado abaixo, no comentário ao v.2),
conclui referindo-se à sua foice (“scythe”) que nada poupa. Ele é identificado
assim a um ceifeiro, representação tradicional também da Morte. Mas os seus
versos, que louvam o ser amado, por serem imortais, resistirão à ação
devastadora do tempo.
3.Observações particulares
-v.1: a expressão “pebbled shore” sugere o fim penoso
da vida, “fim” por que é aí que as ondas – “our minutes” – morrem, e “penoso”
por que magoa o corpo de quem caminha por ela, ou nela senta ou deita, ao
contrário da praia em que só há areia, sem pedras (cf. site
-v.2: o web site http://www.shakespeares-sonnets.com/
alerta para o trocadilho aí existente entre “our” e “hour” ( “our minutes” );
salienta também a associação do número do soneto (60) -- a quantidade de
minutos que uma hora contém -- com o seu tema (o minuto, ou a hora, como
unidade do tempo que passa)
-v.5: ”nativity”:
personificação; sugere criança pequena, pois “crawls” (= “anda de gatinhas” )
para a maturidade
-v.7: “crooked”=
literalmente, “torto”; “torcido”; “trapaceiro”: a interpretação adotada na
tradução é a do web site citado no comentário ao v.2
-a partir do v.8,
verifica-se a presença do Tempo, personificado. No v.8, constata-se o seu
caráter contraditório (como uma pessoa), pois doa e depois toma o que doou
-nos versos 9-12, o
Tempo é identificado, sucessivamente, a um espadachim (trespassa a juventude)
maldoso (escava sulcos na testa da “beleza”), a um tipo de monstro, pois
“alimenta-se” de coisas raras da natureza, e a um ceifeiro, que usa sua foice
sobre tudo e sobre todos, implacavelmente
-v.10: “beleza”:
personificação (substitui “pessoa bela”)
-v.11: adotada, para a tradução, a interpretação do
web site citado no comentário ao v.2
-v.14: recorrência da
idéia da perenidade da poesia (ela resiste à passagem do tempo, desafia-o).
Sonnet
LXXI
No
longer mourn for me when I am dead 1
Than
you shall hear the surly sullen bell
Give
warning to the world that I am fled
From
this vile world, with vilest worms to dwell;
Nay,
if you read this line, remember not 5
The
hand that writ it; for I love you so,
That
I in your sweet thoughts would be forgot,
If
thinking on me then should make you woe.
O,
if (I say) you look upon this verse,
When
I perhaps compounded am with clay, 10
Do
not so much as my poor name rehearse;
But
let your love even with my life decay:
Lest
the wise world should look into your moan,
And
mock you with me after I am gone.
Soneto
LXXI
Quando
eu morrer, não chores por mim mais tempo 1
Do
que aquele em que ouvirás o sino triste e sinistro
Anunciar
às pessoas que parti deste mundo vil,
Para
ir morar com vermes mais vis ainda:
Não,
se leres estas linhas, não recordes 5
A
mão que a escreveu; pois te amo de tal modo
Que
aceitaria ser esquecido, em teus doces pensamentos,
Se
o pensar em mim então te causar dor.
Oh,
(declaro) se leres estes versos,
Quando
eu estiver, talvez, misturado com a terra, 10
Nem
sequer pronuncia o meu pobre nome;
Mas
deixa teu amor extinguir-se com a minha vida.
Para
que os sensatos não examinem o teu lamento,
E
não zombem de ti, por mim, depois que me for.
Comentários ao Soneto LXXI
1.Sinopse
O poeta pede à pessoa amada que
não chore por ele, quando morrer, mais tempo do aquele em que ela ouvirá o sino
tocando, anunciando a sua morte (quarteto 1). Pede a essa pessoa que,
quando ler esses versos, não lembre de quem o escreveu, pois não quer que ela
sofra com a lembrança dolorosa dele (quarteto 2). Não quer nem que ela
pronuncie o seu nome, quando ele estiver enterrado. Ela apenas deve deixar o
seu amor extinguir-se junto com a vida do poeta (quarteto 3). Assim
procedendo, eles – o poeta e a pessoa amada – não serão alvo da zombaria por
parte dos sensatos (“wise world”) (dístico).
2.Tema e intenções
O soneto consiste numa expressão
do sentimento amoroso, relacionada a uma situação-limite, i.e., a da morte
daquele que ama. Este ama tanto a outra pessoa que quer poupá-la até mesmo da
dor da sua lembrança, após a morte.
O poeta, em cada um dos três
quartetos, formula um apelo: 1) não quer que o ser amado chore por ele muito
tempo; 2) não quer ser lembrado (pois acredita que sua lembrança será dolorosa
para a outra pessoa); 3) não quer nem mesmo que o seu nome seja pronunciado.
Cada um desses apelos está associado a uma imagem diferente: 1) a imagem
(sonora) do sino tocando, que dará uma medida do tempo em que ele será
pranteado; 2) a imagem (visual) da mão daquele que escreveu os versos; e 3) a
imagem (sonora) do seu nome pronunciado.
Também em cada quarteto refere-se, explicitamente ou não, ao corpo em
decomposição: 1) no primeiro quarteto, no v.4:
“with vilest worms to dwell”; 2) no segundo, no v.6: “the hand” e 3) no terceiro, no v.10:
“When I perhaps compounded am with clay” e no v.12: “decay”. A presença dos substantivos concretos “sino” e
“vermes”, no primeiro quarteto, “terra” no terceiro, e especialmente “mão”, no
segundo, quando associado ao defunto, conferem a esses versos grande força
expressiva.
3.Observações
particulares
-versos 1-4: segundo os comentaristas (ver
Péricles E.S.Ramos, op.cit., p.84), era costume da época o sino tocar para
anunciar a morte de alguém. O número de badaladas correspondia aos anos de vida
do defunto. A referência sonora contribui para criar a atmosfera adequada ao
poema
-v.2:”triste e sinistro”: de acordo com o
dicionário Houaiss, op.cit., “sullen”= “soturno” (triste, sombrio), “tristonho“ (que produz
tristeza) e “The Oxford Universal Dictionary Illustrated”, op.cit., “surly”= (arc.)
rude e triste, triste e sinistro (que é
de mau agouro, que infunde receio, ameaçador). Significados de “soturno”,
“tristonho” e “sinistro”, conforme dicionário Aurélio, op.cit.
-notar a ocorrência de aliteração em v e w
no v. 4: “From this vile word
with vilest worms to dwell;”, verso impressivo que
sintetiza todo o rancor do ser humano mortal com o mundo
-versos 3,
4 e 13: repetição da palavra “world”
-v.6: “writ”= forma arcaica de “wrote”
-v.7: “forgot”= forma arcaica de “forgotten”
-v.9: “this verse”; notar também, no v.5, “this
line”: essas referências revelam um poeta consciente do seu meio de expressão,
criando um “distanciamento crítico” entre o que é arte e o que é vida; conforme comentário do web site http://www.shakespeares-sonnets.com/,
“I say”, no v.9, pretende enfatizar a expressão da vontade do poeta, como se o
poema fosse o seu testamento
-v.11: “rehearse”= (arc.) dizer, pronunciar, falar; conforme “The Oxford
Universal Dictionary Illustrated”, op.cit.
-v.12: “decay”= decair, declinar; apodrecer, decompor-se
Sonnet LXXIII
That time of year thou mayst in me behold 1
When yellow leaves, or none, or few, do hang
Upon those boughs which shake against
the cold,
Bare ruin’d choirs, where late the
sweet birds sang.
In me thou seest the twilight of such
day 5
As after sunset fadeth in the west,
Which by and by black night doth take
away,
Death´s second self, that seals up all
in rest.
In me thou seest the glowing of such
fire,
That on the ashes of his youth doth
lie, 10
As the death-bed whereon it must
expire,
Consum’d with that which it was
nourish’ d by.
This thou perceiv’st which makes thy
love more strong,
To love that well which thou must leave
ere long.
Soneto LXXIII
Aquela época do
ano em mim tu podes ver 1
Em que nenhuma
ou poucas folhas amarelas pendem
Desses ramos que tremem ao vento frio,
Coros despojados, em ruínas, onde, tardios, doces
pássaros cantavam.
Em mim vês o crepúsculo de um dia 5
Sumindo no ocidente, após o sol se pôr,
Que a negra noite logo leva embora,
Tudo selando-- esse outro eu da morte -- em seu
repouso.
Em mim vês reluzir aquele fogo
Que ainda se encontra nas cinzas da sua juventude, 10
Como o leito de morte em que deve expirar,
Consumido por aquilo com o qual foi alimentado.
Perceber isso faz o teu amor mais forte,
Para amar bem o que há de te deixar em breve.
Comentários ao Soneto LXXIII
1.Sinopse
O poeta, dirigindo-se à pessoa
amada, afirma que ela vê nele aquela época do ano com determinadas
características, típicas do outono. Os ramos desfolhados, despidos (“bare”) são
considerados, metaforicamente, como “coros” arruinados das igrejas, onde
pássaros cantavam (quarteto 1). Ela também vê nele aquele (breve)
momento do dia, após o pôr-do-sol, que a noite logo vai extinguir, lacrando
tudo com o seu selo, o selo do repouso, que não é só o selo do sono mas também
o da morte, uma vez que a noite, além de ser “negra”, é o seu outro eu (“Death´s
second self”) (quarteto 2). Ela o vê ainda como o brilho de um fogo que
está presente “nas cinzas da sua juventude”, comparadas explicitamente a um leito
de morte, pois aí mesmo o fogo que ainda resta deverá extinguir-se. Aquilo que
alimentou o fogo (=a vida) é a razão da sua própria extinção (quarteto 3).
Constatar isso tudo faz aquela pessoa amar o que (“that”) vai perder em breve (dístico).
2.Tema e intenções
O tema do soneto é a maturidade,
fase da vida humana ilustrada por três imagens consecutivas: a) a do outono; b)
a do final do dia, no momento do
crepúsculo,após o apogeu do dia (da vida, a juventude), expresso pela
referência ao sol que já se pôs, e c) a do fogo que ainda existe, no meio das
cinzas da juventude, em que, supõe-se, ardeu mais intensamente. Em todos esses
casos, a referência a fatores que representam a sua negação confere um tom
melancólico ao soneto.
A intenção de Shakespeare,
assim, foi abordar a maturidade da vida humana, consistindo o soneto no
desenvolvimento literário das três imagens associadas a ela.
Com relação à primeira, a
associação da maturidade ao outono é seguida por referência indireta ao
inverno, ou à velhice, sugerida por “cold” (no v.3). Por outro lado, os doces
pássaros cantando tardiamente (“late”) (v.4), fora da época apropriada, sugerem
as estações do ano anteriores, relacionadas à juventude.
O dístico refere-se a uma
verdade psicológica elementar: a de que a privação de um bem torna-o mais
importante aos nossos olhos. Esse “bem” tanto pode ser a pessoa que fala no
poema, i.e. o poeta, quanto a juventude do ser amado, a quem o poema é
dirigido.
3.Observações particulares
-v.1, 5 e 9: as anáforas, no primeiro verso de
cada quarteto, estruturam o soneto (...“thou mayst in me behold”/ “In me thou
seest”.../”In me thou seest”...)
-v.2: “do” é recurso enfático; também ocorre por
exigência rítmica do verso
-v.3: “which” (= que, o qual): repetição de seu
emprego nos versos 7, 12, 13 e 14. Mas
em inglês a repetição de palavras é mais aceita do que em português; ver também
repetição de “that” (=que, aquele, aquilo), que ocorre no v.8, 10, 12 e 13
-v.3: personificação dos ramos,
que “tremem” (“shake”) pelo vento frio; conforme comentário no web site http://www.shakespeare-sonnets.com , “shake against the cold”
tanto pode ser entendido como “tremem em antecipação do frio que se aproxima”,
ou “pelo frio efetivo”, ou como “tremem ao vento frio”
-v.4: presença de uma metáfora aqui: os ramos
desfolhados são vistos como “coros despojados, em ruínas” das igrejas (segundo
o web site citado acima, “em ruínas” tem a ver com a situação das igrejas
católicas na Inglaterra elizabetana; quanto às múltiplas interpretações desse
verso, ver também Péricles E. S. Ramos, op.cit., p.87
-v.4: “tardios”: as estações próprias dos pássaros
cantarem seriam aquelas anteriores ao outono, em especial a primavera, quando
há um clima festivo na natureza
-ocorre, no quarteto 1, referências aos sentidos
da visão (cor amarela, ramos desfolhados), audição (canto dos pássaros) e tato
(frio)
-o web site antes indicado afirma que as folhas
amarelas caindo da árvore no outono (=o poeta) podem sugerir as páginas
produzidas pelo bardo, amarelecidas com o tempo, mencionadas no soneto XVII
-v.6: “fadeth” em vez de “fades”. formas arcaicas
do verbo na 3a. pessoa (também ocorre com “doth” em vez de “does”
(v.7 e 10)
-v.7: “by and by”= logo, daqui a pouco (no v.14 há
outra expressão idiomática: “ere long”= em breve, dentro em pouco (cf.
dicionário Houaiss, op.cit.)
-v.7-8: verifica-se aqui a personificação da
noite, e também da morte. Ambas (a noite, a morte) constituem um só ser, pois a
noite é o “outro eu da morte”
-ênfase ao sentido da visão no quarteto 2
(desaparecimento gradual do dia, “negra noite”)
-v.10: acrescentado “ainda” na tradução, para
tornar mais evidente o sentido do original
-v.10-11: presença de um símile nesses versos: as
cinzas, onde ainda existe fogo, são comparadas a um leito de morte, pois ali
mesmo o fogo deverá extinguir-se
-v.11: “whereon”= sobre o qual
-no quarteto 3, os versos se apóiam na oposição
entre contrários (fogo x cinza), assim como antes, no quarteto 2, ocorreu o
contraste entre dia (=vida) e noite (=morte); no quarteto 1, os contrastes se
dão pelas referências implícitas às estações do ano
-v.14: “to leave”= separar-se de; literalmente, a
tradução do v.14 seria: “ Para amar bem aquilo do qual deves separar-te em
breve”, i.e. as coisas que o ser amado perderá no futuro, não só o próprio
poeta, quando morrer, mas também, por exemplo, a sua juventude, como salienta
comentário do web site citado acima. Nas traduções de Péricles E.S.Ramos, e Ivo
Barroso, perde-se essa ambiguidade, pois
esses tradutores, certamente tentados pela rima com “forte” incluem a palavra
“morte” no verso, que não consta explicitamente do original (Ivo Barroso vai
mais longe, e, em vez de “que”, usa “quem”);
no mesmo web site, afirma-se que pode haver um trocadilho de “well”, no v.14,
com Will, de William (Shakespeare)
Sonnet CXVI
Let me not to the marriage of true
minds 1
Admit impediments. Love is not love
Which alters when it alteration finds,
Or bends with the remover to remove:
O no; it is an ever-fixed mark, 5
That looks on tempests, and is never
shaken;
It is the star to every wandering bark,
Whose worth’s unknown, although his
height be taken.
Love’s not Time’s fool, though rosy
lips and cheeks
Within his bending sickle’s compass
come; 10
Love alters not with his brief hours
and weeks,
But bears it out even to the edge of
doom.
If this be error, and upon me prov’d,
I never writ, nor no man ever
lov’d.
Soneto CXVI
Que eu não admita impedimentos à união 1
Das almas fiéis. Amor não é amor
Que se altera ao encontrar alteração,
Ou se inclina a mudar com quem mudou:
Oh, não! ele é um marco para sempre assentado, 5
Que observa tempestades e nunca se abala;
É a estrela para todo navio errante,
De valor desconhecido, mas de altura mensurada.
O amor não é joguete do Tempo, embora róseos lábios e rostos
Caiam dentro do alcance de sua foice; 10
O amor não muda com as nossas breves horas e semanas,
Mas permanece fiel até chegar a morte.
Se isso for um erro, e contra mim provado,
Eu nunca escrevi e ninguém jamais amou.
Comentários ao soneto CXVI
1.Sinopse
O poeta, após afirmar que não deve haver impedimentos ao casamento das
“almas fiéis” (“true minds”), das pessoas constantes em seu amor, inicia
dizendo o que o amor não é. Ele não é um sentimento que muda ao encontrar
mudanças (no ser amado, supõe-se) (quarteto 1). A seguir, ele é
considerado um “marco” marítimo (“seamark”
= sinal de navegação), inabalável, indiferente às tempestades, e também a
estrela de “valor desconhecido” que guia os navios errantes (quarteto 2).
Depois, o poeta volta a referir-se ao que o amor não é: ele não é joguete do
Tempo, não é afetado por este, embora a juventude/beleza (“rosy lips and
cheeks”) o seja. Ele não muda com o tempo, mas permanece fiel, constante, até o
fim da vida do amante (quarteto 3). Conclui dizendo que se isso for um
erro, o poeta nunca escreveu, e ninguém jamais amou (dístico).
2.Tema e intenções
O soneto busca definir o que é o amor, salientando as suas
características, em especial, a sua permanência durante a vida do amante, a
despeito das alterações que encontra, ou da passagem do tempo.
Para definir o que é o amor, Shakespeare estrutura o soneto com os
versos 2, 5, 7 e 9, que começam assim, respectivamente, : “O amor não é”.../
“é”.../ “é”.../”não é”...
De início, no v.2 e seguintes, o poeta destaca o fato de que o amor não
é um sentimento que se amolda às novas circunstâncias, destacando o seu caráter
permanente.
Na segunda estrofe, a
partir do v.5 (o amor “é“...), Shakespeare explora duas metáforas: 1) o amor é
um marco inabalável, relacionado a um mar tempestuoso, e 2) é a estrela que
guia os navios errantes (a estrela do Norte, segundo os comentaristas). O
caráter permanente antes referido é enfatizado aqui pela menção ao “ever-fixed
mark” (v.5), apesar das tempestades (também com valor simbólico: podem ser
entendidas como as turbulências interiores, decorrentes da “alteração” das
circunstâncias -v. 3). O amor também é
uma estrela-guia, estrela porque é algo elevado, sublime, belo, luminoso,
misterioso (“de valor desconhecido”, v.8), embora sua intensidade possa ser
estimada (= “although his height be taken”, v.8); guia porque orienta as
pessoas na vida (saberão, em função dele, do amor, o que é melhor para elas, a
saber, a posse do ser amado).
No v.9, Shakespeare retorna a uma
definição negativa do amor: “O amor não é”...um joguete do Tempo (“joguete”, segundo
o dic. Aurélio, “é a pessoa ou coisa que é alvo de ludíbrio ou mofa”). O Tempo,
como em outros sonetos, é concebido pelo poeta como uma pessoa, um ceifeiro
implacável, que tudo alcança com a sua foice, menos o amor. O tempo passa, o
amante envelhece (perde os seus “rosy lips and cheeks”, pois a juventude/beleza
também é atingida pela foice do Tempo- versos 9-10) mas mantém-se fiel ao ser
amado, o que nos remete novamente para o caráter duradouro do amor. O amor não
muda com o tempo, mas mantém-se constante até chegar o fim (“doom”), ou a morte
do amante.
O dístico revela que o poeta está
absolutamente convencido da verdade do que afirmou, pois não há como considerar
a hipótese contrária (qual seja, a de que ele nunca escreveu e ninguém jamais
amou).
Verifica-se,
nessa amostra dos sonetos, que as únicas formas, concebidas por Shakespeare, do
ser humano vencer o Tempo – de escapar à sua foice implacável – encontram-se no
amor (ou nos descendentes, frutos do amor) e na arte (na poesia). Quanto ao
amor, além deste, o soneto XII já havia se referido à “prole”
como uma possibilidade de defesa contra o grande Ceifeiro, confirmado pelo
soneto XVII. O soneto LV refere-se aos “que amam”, como as pessoas nas quais o
ser amado continuará vivendo, após a morte, contrapondo-se assim, num certo
sentido, ao aniquilamento absoluto imposto pelo Tempo.
3. Observações
particulares
-v.1: “true minds”= “true lovers”, segundo o web site http://vccslitonline.cc.va.us/sonnet
116/ , que também interpreta esse verso como referindo-se à união
espiritual de “soulmates”, ou seja, de “companheiros ideais, feitos uns para os
outros”. Essa união corresponde ao
casamento costumeiro que, para ser concretizado, não deve haver “impedimentos”
(v.2). Depois dele, os amantes viverão juntos até que a morte (“doom”, v.12) os
separe
-v.4: “to remove”= mudar; mudar-se; (poét.) ir-se embora (dic. Houaiss)
-v.5:
mark= “seamark” (cf. “Cliffs Notes on Shakespeare’s Sonnets”, op.cit., p. 84 e
Péricles E.S.Ramos, op. cit., p. 112). “Seamark” significa,
em português, qualquer sinal de navegação, conforme os dicionários Houaiss e
Michaelis
-v.8: (estrela de) “valor desconhecido”. Péricles E.S. Ramos (op.cit.,
p.113) traduziu como (estrela) “cujo poder se ignora”, realçando não o
desconhecimento da natureza dos astros na época de Shakespeare (cf.o site http://www.shalespeares-sonnets.com/
), mas a sua possível influência sobre as nossas vidas, conforme a
interpretação de outros autores
-v.10: personificação do Tempo. Ele é concebido como a
representação tradicional da Morte, uma ceifeira (ou ceifeiro, personagem
masculino, no caso, por causa de “his”, cf. versos 10 e 11). Representa assim
algo temível, a cuja ação devastadora o amor
oferece resistência (“to bear out”= resistir; permanecer firme), enquanto durar
a vida do ser que ama
certas consoantes e
sons sibilantes, que dificultam a pronúncia do v. 10, e o deformam, atuam como o tempo, que deforma a
beleza da carne
-v.11: “his brief
hours and weeks”- não se traduziu “his” literalmente (= suas, do Tempo) para
evitar a ambigüidade na interpretação do verso
-v.12: “doom”=
julgamento; fim; ruína; Juízo Final (dic. Houaiss)
FONTES
CONSULTADAS
-ALEXANDER, L.G.-
“Poetry and Prose Appreciation for Overseas Students”- Longman, 1974
-BARROSO, Ivo-
“William Shakespeare- 24 Sonetos”- 2a. ed.- Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1975
-HOUAISS, Antônio
(editor)- “Dicionário Inglês-Português”- Rio de Janeiro: Ed. Record, 1987
-MARQUES, Oswaldino-
“Poemas Famosos da Língua Inglesa”- Edições de Ouro,1968
-MENDES, Oscar-
“Sonetos” in “Obra Completa de William Shakespeare”, v. III- Rio de Janeiro:
Ed. Nova Aguilar S.A., 1995
-MICHAELIS-
“Dicionário Ilustrado Inglês-Português”-Ed. Melhoramentos, s/d
-“NOVO Dicionário
Aurélio da Língua Portuguesa”- 2ª ed.- Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1986
-PRIESTLEY, J.B. et al.- “Adventures in English Literature”- v.2-
Harcourt, Brace & World, Inc.- 1963
-RAMOS, Péricles
Eugênio da Silva- “Sonetos de Shakespeare”- Ediouro, s/d
-SENNA, Carl- “Cliffs
Notes on Shakespeare’s Sonnets”- 2nd Edition, 2000
-SHAKESPEARE, William-
“Complete Sonnets”- Dover Publications, Inc.- New York, 1991
-“THE Oxford
Universal Dictionary Illustrated”- 2 v., 1970
-WEB sites: “Shakespeare’s
Sonnets”:
(inclui comentários
aos sonetos, verso a verso, respaldados nos seguintes autores: Stephen Booth,
G.Blakemore Evans, Katherine Duncan-Jones, John Kerrigan, Helen Vendler, Eric
Partridge e C.T.Onions)
-sobre o soneto LX:
-sobre o soneto CXVI:
É possível adquirir o livro "Dez Sonetos de Shakespeare" em http://www.agbook.com.br/authors/67231
ResponderExcluir