segunda-feira, 20 de novembro de 2023

ESCRAVIDÃO, de Laurentino Gomes

Em "Escravidão", v. III (Globolivros, 2022), Laurentino Gomes conclui a sua trilogia sobre o tema mais importante da história do Brasil. Inicia, no v. I, por referir-se às suas origens entre nós (séculos XVI e XVII), aborda, no v. II, o século XVIII e neste v. III o séc. XIX, até a Lei Áurea. Deve-se dizer que o autor se sai muito bem da empreitada a que se dedicou. Segundo Laurentino, nosso país importou 4,9 milhões de negros escravizados da África desde o descobrimento até 1850, ano em que cessa efetivamente o tráfico (em termos legais, ele já estava proibido desde 1831, por uma lei que não pegou, feita "para inglês ver"). Essa importação de gente para o Brasil ocorreu a partir de Angola e áreas próximas (70%) além de Benin, Togo e Nigéria, basicamente (30%). Mas isso não significa, como salienta, que os escravos eram todos nativos dessas regiões. Eles poderiam ser oriundos de áreas mais interioranas dentro do continente africano porém exportados pelos portos desses países. A entrada no Brasil de tão significativo contingente populacional condicionou profundamente a nossa sociedade, não só em termos demográficos (pois hoje mais de 50% da população brasileira se define como negra ou parda) mas também em termos sócio-econômicos, uma vez que explica a condição miserável de significativa parcela da população, dadas as peculiaridades do nosso caso (o país foi o último do mundo a abolir a escravidão). Em 1888, com a Lei Áurea, o país deixou de ter escravos de um dia para outro. Não houve indenização aos seus proprietários (como era requerido por eles, em respeito ao “sagrado” direito da propriedade privada), indenização essa questionada por muitos, haja vista a exploração do trabalho a que estiveram submetidos por anos a fio. A emancipação ocorreu sem que fosse assegurada aos ex-escravos a sua autossuficiência econômica por meio de uma reforma agrária, tema levantado na época por muitos intelectuais respeitados. Além de não se fazer tal reforma, agiu-se no sentido inverso, com a aprovação da Lei de Terras em 1850 que beneficiou os latifundiários e dificultou o acesso a elas por parte dos emancipados! Isso, e muito mais, consta desse livro de leitura obrigatória, bem fundamentado, que se apoia nos melhores estudiosos sobre o tema e numa boa fonte de informações estatísticas. Segundo o próprio Laurentino Gomes, autor de diversos livros sobre história do Brasil, “Escravidão” é a sua melhor obra.