domingo, 3 de março de 2024

“HEIDEGGER- Anatomia de um Escândalo”

“HEIDEGGER- Anatomia de um Escândalo”, de Francois Fédier (Vozes, 1989) é um livro interessante por buscar compreender a adesão do filósofo ao Nazismo durante um curto período quando esse partido ascendeu ao poder na Alemanha. Nessa época, Heidegger tornou-se reitor da universidade de Freiburg, assumindo tal cargo em abril de 1933 e o deixando em fevereiro de 1934, vale dizer, por menos de um ano, já decepcionado com esse movimento político. O filósofo todavia até o fim de seus dias, em 1976 (ele nascera em 1889), terá que conviver com essa mácula, agravada pelo seu silêncio com relação ao fato no pós-guerra e anos posteriores, até a sua morte. François Fédier, que esteve várias vezes com Heidegger, dá o seu testemunho a respeito dele, sem esconder a sua admiração, mas procurando ser justo com relação aos fatos, apresentando-os honestamente, sem distorcê-los, como faz na sua opinião Victor Farías, autor de “Heidegger e o Nazismo”, lançado em 1987. Na realidade, toda a primeira parte do livro é dedicada a rebater, ponto por ponto, as acusações desse autor, fazendo-o de modo convincente. Na segunda parte, Fédier, sem justificá-la, busca compreender a posição de Heidegger naquele curto período, ao qual se seguiram dez anos de domínio nazista em que o filósofo, corajosamente, defendeu posições críticas a ele em sua atividade docente.