terça-feira, 30 de novembro de 2021

OS ANCESTRAIS MATERNOS DE MEU NETO ALEXANDRE JR

Tive acesso, uma vez, a um livro que muito me interessou então por conter, em seu capítulo XIII, dados sobre os ancestrais, pelo lado materno, de minha querida nora Maria Augusta Bilik, mãe de Alexandre Jr, meu neto. Intitula-se "Minha Cidade, Minha Saudade- Rio Branco (Arcoverde)- Reminiscências", de Luis Wilson, publicado em Recife, em 1972. O texto que segue se baseia em informções extraídas desse livro. Essa minha nora é filha de D. Rita Japiassu e de Romão Bilik Neto. Seus avós maternos são Moacyr Japiassu e D. Maria Augusta (a neta tomou o nome da avó). Moacyr, por sua vez, é filho cel.Antônio Japiassu (v. foto acima), nascido em Leopoldina, no sertão de Pernambuco. Ele foi comerciante em Recife. Mudou-se em 1906 para Pedra e depois para Rio Branco, elevado à categoria de município em 1928. O cel. Antonio foi eleito seu primeiro prefeito, sendo destituído do cargo pela Revolução de 1930. Esse político da República Velha, coronel da Guarda Nacional, casou duas vezes, a primeira com D. Adélia Peixoto de Alencar, com quem teve sete filhos, um dos quais é Antônio Japiassu Filho, que casou no sul do país com D. Dulce. São os pais de Vera, Carmen, Sônia e outra moça, segundo o autor. O segundo casamento foi com D. Olga Peixoto de Alencar, "filha do Dr. Francisco Pinto de Alencar (advogado em Alagoas)". De acordo com a mesma fonte, Olga e Adélia, a primeira esposa, eram irmãs. Também o eram "do professor, jornalista e romancista (hoje, no Rio) Renato de Alencar, proprietário, em 1920, de um colégio em Pesqueira". São filhos do segundo casamento Moacyr e Lourdes. Moacyr casou, como já disse acima, com D. Maria Augusta. São seus filhos Olga Maria, Lourdes, Neusa, Rita (avó de meu neto), Antônio e Moacyr. Lourdes "casou com o espanhol Teófilo Cortizo Moreira, sócio, no Recife, da firma 'Joaquim M. Coelho & Cia Ltda'". O cel. Antônio Japiassu residiu alguns anos em S.Paulo e depois retornou a Pernambuco. Faleceu em 29 de outubro de 1957 em Recife. Segundo a mesma fonte, "Japiassu" (que significa "ave canora que imita o canto de outras aves", conforme a edição portuguesa do dicionário Caudas Aulete) foi um nome adotado pelo cel. Mariano da Costa Araújo (ou Mariano Japiassu), pai do cel. Antônio Japiassu. Ele era dono da fazenda Cachoeiro em Leopoldina. No último quartel do século XIX transferiu-se para o Estado da Paraíba (município de Alagoa do Monteiro), onde comprou a fazenda Jaú. Além disso, afirma-se no livro citado que o cel. Mariano era filho do cap. José de Araújo Costa e de D. Maria Aguiar de Araújo. Mariano foi colega de colégio do padre Cícero Romão Batista, com quem se correspondia. Casou três vezes e teve 11 filhos. Por fim, a mesma fonte informa que o cel. Mariano era descendente de Domingos da Costa Araújo, "fidalgo da Casa Real, professo da Ordem de Cristo, natural da vila de Lanhoso, na Comarca de Guimarães, em Portugal, com brasão de armas registrado na Câmara de Olinda, coronel de Ordenança, aqui chegado no início do século XVIII" (entenda-se "aqui" por Pernambuco). Assim, meu neto Alexandre Júnior, filho de Maria Augusta e Alexandre van Erven, é neto, por parte de mãe, de D. Rita Japiassu e Romão Bilik Neto, bisneto de Moacyr Japiassu e de D. Maria Augusta, é trineto do cel. Antônio Japiassu e de sua segunda esposa, D. Olga Peixoto de Alencar, é tetraneto do cel.Mariano da Costa Araújo (ou Mariano Japiassu) e pentaneto do cap. José de Araújo Costa. Pouca gente no Brasil sabe quem foi o seu pentavô!

terça-feira, 23 de novembro de 2021

A TERRA DESOLADA

Estou lançando esse novo livro. Trata-se de um estudo introdutório ao poema "The Waste Land", de T.S.Eliot (1888-1965), uma das mais importantes obras literárias do século XX. Ao analisar, passo a passo, os 433 versos dele, reuni subsídios para a sua melhor compreensão, haja vista a complexidade do poema. Simultaneamente, discuto questões de sua tradução em português, a começar pelo título, justificando as opções realizadas. No final, apresento a minha tradução do poema, que em nosso idioma toma o título de "A Terra Desolada". Os interessados podem adquirir o livro em questão por meio do site https://agbook.com.br/book/408571--A_TERRA_DESOLADA

quarta-feira, 24 de março de 2021

ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE “KARL MARX UMA BIOGRAFIA”,  DE JOSÉ PAULO NETTO (BOITEMPO, 2020)  

                                                                                  

 - Trata-se de uma excelente biografia de Karl Marx (1818-1883), que enfatiza mais a obra do que a vida desse pensador alemão, embora o autor esteja ciente da importância que ele atribui à atividade prática dos homens, não se restringindo ao mundo da teoria. Como sabemos, uma das suas teses contra Feuerbach afirma: “Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo diferentemente, cabe transformá-lo”.

- Assim, essa biografia não deixa de contemplar a atuação prática de KM, e de seu amigo e colaborador  Friedrich Engels (1820-1895),  junto aos trabalhadores, participando de suas lutas. Depois do fracasso das revoluções de 1848-1849 no continente europeu, KM, com pouco mais de 30 anos, teve que se exilar na Inglaterra, onde residiria até morrer, aos 65 anos incompletos. Simultaneamente às suas atividades intelectuais e ao exercício do jornalismo, sempre comprometido com as causas dos trabalhadores,  empenhou-se em sua organização, o que culminou com  a criação, em 1864, da Associação Internacional dos Trabalhadores (a Ia.  Internacional), sediada em Londres, da qual foi o dirigente desde aquele ano até 1872, quando sua sede passou a ser Nova York (a Associação seria extinta formalmente em 1876).

- Todavia, é inegável que o livro de J.P Netto dá mais ênfase à biografia intelectual de KM, e nisso consiste, a meu ver, o seu maior atrativo: apresenta a evolução do pensamento de Marx, desde a sua formação filosófica hegeliana, que ele dialeticamente aceitou/rejeitou/superou, substituindo o ponto de vista idealista pelo materialista. De posse de um método totalizante, analisou a experiência histórica da humanidade, na qual distinguiu diversos tipos de sociedade, correspondentes a vários modos de produção: asiático/da antiguidade/feudal/capitalista.  Coube-lhe, naturalmente, concentrar-se nesse último tipo, o da sociedade burguesa, avaliada em suas diversas instâncias (econômica/ social/ política/ ideológica), pois era a sociedade de seu tempo (e continua sendo a do nosso, daí a relevância de seu pensamento, referida por Sartre). Voltou-se especialmente para a base de tal sociedade, objeto da economia política, concentrando-se na crítica dessa disciplina, condicionada que é pelo viés da burguesia (pois “as ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias dominantes”, como afirmou em “A Ideologia Alemã”).  Tal crítica é formulada sob a óptica da classe trabalhadora, aquela que de fato gera o valor, apropriado, em sua maior parte, pelo dono do capital (“mais-valia”), e que consiste na essência da exploração capitalista.  Desse modo, a biografia fixa-se em alguns momentos cruciais da evolução do pensamento de KM, apresentando o conteúdo essencial das obras representativas desses momentos produzidas por Marx, que sempre contou com a  colaboração valiosa de Engels. O livro faz uma breve análise dessas obras, destacando seus aspectos inovadores e referindo-se às polêmicas que causaram. Mostra assim a trajetória do pensamento marxiano até chegar à sua maturidade refletida em “O Capital”, Livro I, publicado  em 1867. 

-O livro indica também uma bibliografia rica e atualizada,  comentada pelo autor, sobre os diversos temas abordados, refletindo o “estado da arte” do seu debate. J.P.Netto é dotado de excelente didática, tendo exercido o magistério por muitos anos (é professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Suas 205 páginas de notas, além das 70 da bibliografia,  são preciosas, pois consistem num excelente guia de leitura para quem pretenda se aprofundar nos temas em questão, tanto no mundo acadêmico como fora dele.  Tal guia chega a incorporar inclusive publicações sobre temas novos, como o das limitações dos recursos naturais do planeta face à expansão constante do capitalismo, não prevista por Marx (aliás, como diz o autor, a obra do pensador alemão é indispensável mas não suficiente para a compreensão do capitalismo no século XXI...).  

- Quanto à vida privada ou familiar de Marx, J.P.Netto dá a voz, frequentemente,  a Mary Gabriel que a aborda em seu livro “Amor & Capital”, retratando a vida, as dificuldades e alegrias do casal Karl e Jenny, e suas três filhas Jenny, Laura e Eleanor. A esposa de Marx,  filha da aristocracia prussiana e 4 anos mais velha que ele, era uma mulher evoluída que não se impediu, por preconceito, de rejeitar o amor desse filho de um advogado judeu. Quanto às filhas, Jenny casou-se com Paul Lafargue e Laura com Charles Longuet, ambos militantes socialistas. 

- Engels foi o amigo de toda a vida e colaborador intelectual constante de Marx. Era praticamente da família, dada a íntima convivência com seus membros. Sendo rico, filho de industrial sediado em Manchester (no coração da Revolução Industrial, de papel relevante nos primórdios do capitalismo) ajudou financeiramente Marx durante um bom tempo da vida deste, cuja renda obtida pela contribuição a alguns jornais não era suficiente para manter a família.  Engels sobreviveu a Marx por 12 anos, cabendo-lhe editar os livros II e III de “O Capital”, que seu autor deixara incompleto. O trabalho dele quanto ao livro III foi muito maior, levando J.P.Netto a referir-se a Engels como seu “verdadeiro coautor”).  Também aqui revelou a sua grande generosidade, ao dedicar-se a essa tarefa árdua durante muitos anos (o livro II foi publicado em 1885 mas o livro III só em 1894).  Engels relacionou-se afetivamente com uma irlandesa da classe operária. Após a morte desta, uniu-se à sua irmã.

- Para concluir, vale transcrever este comentário de José Paulo Netto (p.491-2), sobre o seu biografado:  “o seu legado teórico e político (...) manteve-se e mantém-se vivo. Inscreveu-se durável e irreversivelmente na história, na cultura e na contemporaneidade (...). O legado de Marx resistiu e se revigorou ao longo de mais de cem anos de sistemática desqualificação pelas burguesias e seus representantes, e igualmente a pelo menos cinco décadas de deformação – durante as quais até crimes foram cometidos em seu nome – por ideólogos que o converteram em doutrina oficial da maioria das “sociedades pós-revolucionárias” (assim caracterizadas por Mészáros)”. Quanto ao revigoramento do legado de Marx, J.P.Netto refere-se, na p. 491, à matéria de “um órgão da comunicação social burguesa”, o “New York Times que afirmou em sua edição de 27 de junho de 1998: “o patrimônio de Marx ressurge depois de 150 anos”.   Menciona também “outro órgão da mesma estirpe”, “The Times”, de 20 de outubro de 2008, que  exclamou, durante a crise do capitalismo irrompida em 2008, a propósito de Marx:  Ele voltou!”.