segunda-feira, 3 de outubro de 2022

"CAPITÃES DA AREIA"

Esse livro de Jorge Amado aborda a questão dos menores abandonados de Salvador. São pequenos ladrões ou pedintes, futuros malandros (ou não). Vivem livres na areia das praias e moram num antigo trapiche, não mais usado. São marginais, vivem à margem da sociedade. O autor vê com simpatia esses deserdados da sorte, sem pai nem mãe, sem família. Compreende as razões para a sua condição precária, como produto de uma sociedade desigual e injusta. O bando é conhecido como os "capitães da areia". É assim que a imprensa também os chama, uma imprensa, aliás, que os vê de forma preconcebida, com o viés das classes dominantes, que não hesita em condená-los antes de procurar compreender as razões sociais que produzem o fenômeno. É um belo romance, com personagens marcantes, retratados realisticamente, com seus vícios e também suas virtudes, nas quais se destaca a lealdade ao grupo. Ainda lhes resta um pouco do espírito infantil, que não perderam totalmente, em sua infância roubada pelo precoce amadurecimento. A meu ver, o capítulo de maior qualidade literária, de elevado grau de lirismo, é o relativo à menina-moça Dora, com quem o chefe do bando, Pedro Bala, descobre o amor. Este é o protagonista do livro, que mostra a sua evolução para o maior engajamento político, enquanto seus companheiros mais próximos tomam outro rumo na vida. O livro é de 1937, e foi proibido pelo Estado Novo. Mas continua muito atual, como toda obra-prima...

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